O ápice de um trabalho dirigido por Ferguson num clube médio
escocês que suplantou os gigantes locais, Celtic e Rangers, e alcançou a sua
maior conquista internacional contra todas as probabilidades.
A conquista contra o poderoso Real Madrid só serviu para
pavimentar o mito de Ferguson em Pittodrie antes dele migrar para o sul e
imortalizar-se em outro time vermelho.
Conheçam maiores detalhes desta partida épica ao ler o texto
abaixo.
Boa leitura.
1. Programa oficial da final torneio (Pinterest) |
A fase de quartas de final da Copa dos Vencedores de Copas Europeias da temporada 1982-83 não viu somente a queda do Bayern Munique, mas também do Barcelona,
Internazionale e Paris Saint Germain.
De repente o caminho parecia tentadoramente limpo, especialmente
quando o Aberdeen encarou o Waterschei na semifinal. O time belga se recuperou
de um uma desvantagem de dois gols para eliminar o PSG e lhe deveria ser dado o
devido respeito.
De uma vez por todas, este pequeno time provincial que nunca
havia ganho o campeonato belga, estava lá para decidir uma passagem à final.
Sair perdendo por dois gols logo nos quatro primeiros minutos de
partida foi um golpe do qual o Waterschei não conseguiu se recuperar
possibilitando ao Aberdeen disputar sua primeira final europeia.
No papel, Real Madrid versus Aberdeen, pareceu a maior
disparidade de todos os tempos. O seis vezes campeão europeu contra o duas
vezes campeão escocês, os multimilionários da Espanha contra um singelo e bem
administrado clube onde a maioria do time não custou nada.
2. Eric Black marcando o seu gol na partida (Getty Images) |
O Real Madrid era dirigido por um dos seus maiores jogadores,
Alfredo Di Stefano. Do seu ponto de vista, encarar o Aberdeen era uma faca de
dois gumes.
O Real deveria vencer, desde que ele pudesse se proteger contra um
relaxamento natural do seu time. Seria o mesmo para o Aberdeen ao disputar uma
final contra um Raith ou um Airdrie.
Ao lado do holandês Metgod e do alemão Stielike o Real estava recheado
de jogadores da Seleção da Espanha. Camacho e Santilana tinham ambos encarado a
Inglaterra na Copa do Mundo de 82.
Ferguson jogou com todas táticas psicológicas que conhecia. Em
favor dos Dons estava o local, Gotemburgo, facilmente acessível a partir da
Escócia, que ficaria a uma distância e meia de viagem saindo da Espanha.
A distância, acrescida de um adversário sem tradição, encorajou
um mero punhado de torcedores espanhóis a fazer a viagem. O Ullevi Stadium se
tornou Pittodrie por um dia.
3. John Hewitt comemorando o seu gol que deu o título aos Dons (Getty Images) |
Jock Stein foi convidado para adicionar a sua enorme experiência
à causa do Aberdeen.
O terceiro “acréscimo” foi a temperatura: horas de chuva no
período que antecedeu a partida deixaram o gramado encharcado e empoçado,
condições com as quais os jogadores dos Dons estavam mais familiarizados que os
do Real, ainda que não estivesse ao agrado de malandros como Strachan e Weir.
No fim, é claro, tudo se resumia aos jogadores. A perda de
Stuart Kennedy, por causa de uma lesão no joelho na Bélgica, significava que
Doug Rougvie jogaria pela lateral direita e John McMaster pela esquerda.
Ambos atuaram tão bem que Kennedy mal fez falta. O fascinante
driblador, Dougie Bell, também fazia falta embora, em retrospectiva, o gramado
encharcado pode ter prejudicado a sua contribuição.
O primeiro lance viu Erick Black inclinar o corpo
acrobaticamente para desferir um potente voleio que acertou a trave superior de
Augustin, em cruzamento longo de Strachan.
4. Fergie correndo para comemorar após o apito final (Getty Images) |
Não se sabia se deveria ficar maravilhado pela forma física ou
amaldiçoar sua má sorte. Chances como aquela provavelmente seriam escassas, e
aquela foi desperdiçada.
A discussão foi sepultada quando o Aberdeen marcou o primeiro
gol. Foi um gol estranho. A cabeçada de McLeish foi desviada na direção de
Black, que se virou desajeitadamente e empurrou a bola para dentro do gol na
pequena área. A TV sugere que Black calculou mal a sua posição, quase
estragando o lance por impedimento.
Mas o Aberdeen teve o seu gol validado e, pela evidência do que
havia se passado até o momento, esta vantagem era merecida ao melhor time em
campo. O Real criou poucas oportunidades para marcar e o seu gol de empate não
foi por méritos próprios, mas às condições, que o Aberdeen reconheceu como
favoráveis.
O passe para trás de McLeish travou bruscamente na grama
molhada, Leighton derrubou Santillana e Juanito marcou de pênalti. Isso seria
um problema se pensarmos que, sob as regras atuais, Jim Leighton teria sido
expulso pela falta cometida.
Para McLeish, cujo maravilhoso gol no final da copa escocesa
ajudou a tornar tudo isso possível, seu erro deve tê-lo deixado próximo ao
desespero. Se o Aberdeen tivesse pedido, ele ficaria inconsolável.
5. |
O Aberdeen foi o melhor time no segundo tempo, mas apesar dos
esforços de Weir e McGhee o placar não se alterou. A prorrogação viu a saída de
Black para a entrada do super reserva Hewitt.
A oito minutos da decisão por pênaltis, que o Real Madrid
confiantemente esperava vencer, Peter Weir passou por dois jogadores pela ala
esquerda. Ele girou e tocou a bola na direção de McGhee, cujo cruzamento pegou
Augustin fora da pequena área. O goleiro, por centímetros, não conseguiu
interceptar a bola que, na corrida, foi cabeceada por John Hewitt para as redes
vazias.
O Real Madrid só ameaçou mais uma vez quando numa cobrança de
falta, que Salguero chutou com força perto do canto direito baixo da meta
defendida por Leighton.
Então estava tudo acabado! Jogadores e torcedores se entregaram
a comemorações sem paralelo na história do Aberdeen FC. Para John Hewitt, cujo
gol-relâmpago em Motherwell definiu uma série de acontecimentos, teria um lugar
especial no Hall da Fama de Pittrodie.
Assim como o Celtic em 1967 e os Rangers em 1972, a glória
europeia do Aberdeen foi conquistada com um time composto inteiramente por
escoceses.
6. |
Os Dons receberam somente um cartão amarelo ao longo das onze
partidas disputadas.
Era a cereja no bolo do Aberdeen. O monopólio de seis anos dos
clubes ingleses em competições europeias estava quebrado, permitindo ao
Aberdeen ser o centro das atenções. Foi óbvio que a final da Copa dos
Vencedores de Copas foi televisionada para 42 países da Europa, menos para a
Inglaterra.
“O Aberdeen tinha o que o dinheiro não pode comprar – uma alma –
um espírito de time feito na tradição da família.” Alfredo Di Stefano,
treinador do Real Madrid.
Você sabia? Do time que ganhou a Copa dos Vencedores de Copas,
seis estavam no Aberdeen antes de Ferguson – Leighton, Rougvie, McMaster,
McLeish, Miller e Strachan.
Somente três jogadores foram comprados – Strachan, McGhee e Weir
– o que significou que o time todo custou menos de £400.000.
7. |
Ficha
técnica da partida:
Aberdeen
2 (Eric Black, John Hewitt) Real Madrid 1 (Juanito)
Final
da Copa dos Vencedores de Copas Europeias
11
de maio de 1983
Local: Nya Ullevi
Público:
17.804
Aberdeen:
Jim Leighton, Doug Rougvie, Alex McLeish, Willie Miller (capitão), John
McMaster, Neale Cooper, Gordon Strachan, Neil Simpson, Peter Weir, Eric Black (John
Hewitt), Mark McGhee.
Real
Madrid: Agustín, Juan José, John Metgod, Paco Bonet, José Antonio Camacho (Isidoro
San José), Ángel, Ricardo Gallego, Uli Stielike, Isidro (Pepe Salguero), Juanito
(capitão), Santillana. *
* Aberdeen, The European Era – 1966-96. Clive Leatherdale ©.
8. Capa do livro |
Tradução: Sandro Pontes
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