sábado, 29 de junho de 2019

Aberdeen 2 Real Madrid 1 - Final da Copa dos Vencedores de Copas Europeias

O ápice de um trabalho dirigido por Ferguson num clube médio escocês que suplantou os gigantes locais, Celtic e Rangers, e alcançou a sua maior conquista internacional contra todas as probabilidades.

A conquista contra o poderoso Real Madrid só serviu para pavimentar o mito de Ferguson em Pittodrie antes dele migrar para o sul e imortalizar-se em outro time vermelho.

Conheçam maiores detalhes desta partida épica ao ler o texto abaixo.

Boa leitura.

1. Programa oficial da final torneio (Pinterest)

A fase de quartas de final da Copa dos Vencedores de Copas Europeias da temporada 1982-83 não viu somente a queda do Bayern Munique, mas também do Barcelona, Internazionale e Paris Saint Germain.

De repente o caminho parecia tentadoramente limpo, especialmente quando o Aberdeen encarou o Waterschei na semifinal. O time belga se recuperou de um uma desvantagem de dois gols para eliminar o PSG e lhe deveria ser dado o devido respeito.

De uma vez por todas, este pequeno time provincial que nunca havia ganho o campeonato belga, estava lá para decidir uma passagem à final.

Sair perdendo por dois gols logo nos quatro primeiros minutos de partida foi um golpe do qual o Waterschei não conseguiu se recuperar possibilitando ao Aberdeen disputar sua primeira final europeia.

No papel, Real Madrid versus Aberdeen, pareceu a maior disparidade de todos os tempos. O seis vezes campeão europeu contra o duas vezes campeão escocês, os multimilionários da Espanha contra um singelo e bem administrado clube onde a maioria do time não custou nada.

2. Eric Black marcando o seu gol na partida (Getty Images)

O Real Madrid era dirigido por um dos seus maiores jogadores, Alfredo Di Stefano. Do seu ponto de vista, encarar o Aberdeen era uma faca de dois gumes.

O Real deveria vencer, desde que ele pudesse se proteger contra um relaxamento natural do seu time. Seria o mesmo para o Aberdeen ao disputar uma final contra um Raith ou um Airdrie.

Ao lado do holandês Metgod e do alemão Stielike o Real estava recheado de jogadores da Seleção da Espanha. Camacho e Santilana tinham ambos encarado a Inglaterra na Copa do Mundo de 82.

Ferguson jogou com todas táticas psicológicas que conhecia. Em favor dos Dons estava o local, Gotemburgo, facilmente acessível a partir da Escócia, que ficaria a uma distância e meia de viagem saindo da Espanha.

A distância, acrescida de um adversário sem tradição, encorajou um mero punhado de torcedores espanhóis a fazer a viagem. O Ullevi Stadium se tornou Pittodrie por um dia.

3. John Hewitt comemorando o seu gol que deu o título aos Dons (Getty Images)

Jock Stein foi convidado para adicionar a sua enorme experiência à causa do Aberdeen.

O terceiro “acréscimo” foi a temperatura: horas de chuva no período que antecedeu a partida deixaram o gramado encharcado e empoçado, condições com as quais os jogadores dos Dons estavam mais familiarizados que os do Real, ainda que não estivesse ao agrado de malandros como Strachan e Weir.

No fim, é claro, tudo se resumia aos jogadores. A perda de Stuart Kennedy, por causa de uma lesão no joelho na Bélgica, significava que Doug Rougvie jogaria pela lateral direita e John McMaster pela esquerda.

Ambos atuaram tão bem que Kennedy mal fez falta. O fascinante driblador, Dougie Bell, também fazia falta embora, em retrospectiva, o gramado encharcado pode ter prejudicado a sua contribuição.

O primeiro lance viu Erick Black inclinar o corpo acrobaticamente para desferir um potente voleio que acertou a trave superior de Augustin, em cruzamento longo de Strachan.

4. Fergie correndo para comemorar após o apito final (Getty Images)

Não se sabia se deveria ficar maravilhado pela forma física ou amaldiçoar sua má sorte. Chances como aquela provavelmente seriam escassas, e aquela foi desperdiçada.

A discussão foi sepultada quando o Aberdeen marcou o primeiro gol. Foi um gol estranho. A cabeçada de McLeish foi desviada na direção de Black, que se virou desajeitadamente e empurrou a bola para dentro do gol na pequena área. A TV sugere que Black calculou mal a sua posição, quase estragando o lance por impedimento.

Mas o Aberdeen teve o seu gol validado e, pela evidência do que havia se passado até o momento, esta vantagem era merecida ao melhor time em campo. O Real criou poucas oportunidades para marcar e o seu gol de empate não foi por méritos próprios, mas às condições, que o Aberdeen reconheceu como favoráveis.

O passe para trás de McLeish travou bruscamente na grama molhada, Leighton derrubou Santillana e Juanito marcou de pênalti. Isso seria um problema se pensarmos que, sob as regras atuais, Jim Leighton teria sido expulso pela falta cometida.

Para McLeish, cujo maravilhoso gol no final da copa escocesa ajudou a tornar tudo isso possível, seu erro deve tê-lo deixado próximo ao desespero. Se o Aberdeen tivesse pedido, ele ficaria inconsolável.

5. O time com o troféu conquistado (Getty Images)

O Aberdeen foi o melhor time no segundo tempo, mas apesar dos esforços de Weir e McGhee o placar não se alterou. A prorrogação viu a saída de Black para a entrada do super reserva Hewitt.

A oito minutos da decisão por pênaltis, que o Real Madrid confiantemente esperava vencer, Peter Weir passou por dois jogadores pela ala esquerda. Ele girou e tocou a bola na direção de McGhee, cujo cruzamento pegou Augustin fora da pequena área. O goleiro, por centímetros, não conseguiu interceptar a bola que, na corrida, foi cabeceada por John Hewitt para as redes vazias.

O Real Madrid só ameaçou mais uma vez quando numa cobrança de falta, que Salguero chutou com força perto do canto direito baixo da meta defendida por Leighton.

Então estava tudo acabado! Jogadores e torcedores se entregaram a comemorações sem paralelo na história do Aberdeen FC. Para John Hewitt, cujo gol-relâmpago em Motherwell definiu uma série de acontecimentos, teria um lugar especial no Hall da Fama de Pittrodie.

Assim como o Celtic em 1967 e os Rangers em 1972, a glória europeia do Aberdeen foi conquistada com um time composto inteiramente por escoceses.

6. Fergie erguendo a taça com um assistente (Getty Images)

Os Dons receberam somente um cartão amarelo ao longo das onze partidas disputadas.

Era a cereja no bolo do Aberdeen. O monopólio de seis anos dos clubes ingleses em competições europeias estava quebrado, permitindo ao Aberdeen ser o centro das atenções. Foi óbvio que a final da Copa dos Vencedores de Copas foi televisionada para 42 países da Europa, menos para a Inglaterra.

“O Aberdeen tinha o que o dinheiro não pode comprar – uma alma – um espírito de time feito na tradição da família.” Alfredo Di Stefano, treinador do Real Madrid.

Você sabia? Do time que ganhou a Copa dos Vencedores de Copas, seis estavam no Aberdeen antes de Ferguson – Leighton, Rougvie, McMaster, McLeish, Miller e Strachan.

Somente três jogadores foram comprados – Strachan, McGhee e Weir – o que significou que o time todo custou menos de £400.000.

7. Bus Parade da vitória pelas ruas de Aberdeen (Alamy Stock Photos)


Ficha técnica da partida:


Aberdeen 2 (Eric Black, John Hewitt) Real Madrid 1 (Juanito)


Final da Copa dos Vencedores de Copas Europeias


11 de maio de 1983


Local: Nya Ullevi


Público: 17.804


Aberdeen: Jim Leighton, Doug Rougvie, Alex McLeish, Willie Miller (capitão), John McMaster, Neale Cooper, Gordon Strachan, Neil Simpson, Peter Weir, Eric Black (John Hewitt), Mark McGhee.


Real Madrid: Agustín, Juan José, John Metgod, Paco Bonet, José Antonio Camacho (Isidoro San José), Ángel, Ricardo Gallego, Uli Stielike, Isidro (Pepe Salguero), Juanito (capitão), Santillana. *

* Aberdeen, The European Era – 1966-96. Clive Leatherdale ©.

8. Capa do livro
Tradução: Sandro Pontes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Wolves neste dia