sábado, 13 de julho de 2019

A influência do futebol no melhor álbum do The Clash

Pegando gancho no Dia Mundial do Rock, trazemos até vocês como o futebol influenciou, direta e indiretamente, na produção do melhor álbum da história da banda de punk rock londrina The Clash.


A curiosidade, e posterior achado deste material que foi traduzido, deu-se quando começou a se pesquisar a razão de sempre nos jogos dos Gunners, tanto antes do começo quanto nos intervalos tocar músicas do Clash (principalmente London Calling).


Se trata de uma matéria de uma revista de futebol americana (!!) chamada 8 by 8 Magazine e o seu autor original, Chris Salewicz, escreveu durante um bom tempo para o periódico musical londrino New Musical Express (também conhecido como NME, atualmente só existe a versão online, pois a versão impressa foi descontinuada em março de 2018).


De acordo com um trecho retirado da sua vida, relatado no Wikipedia: “O tempo de Salewicz na NME o ajudou a forjar uma relação única de amizade com dois homens que redefiniram a música nos anos 1970s, 1980s e 1990s: Joe Strummer (do Clash) e Bob Marley”.


Excelente matéria que, além de abordar a evidente relação que o futebol trouxe para o Clash, numa época em que a banda estava meio em baixa no que diz respeito à criatividade artística, ainda traz um pouco de hooliganismo e também do racismo que permeava o futebol inglês naquele fim de anos 1970s e começo dos 1980s.


Boa leitura.


1. Distintivos de Chelsea e Arsenal (Pinterest)


Como o futebol deu forma ao melhor álbum do The Clash


Por Chris Salewicz ©, 25 de junho de 2015, Edição 05, Revista 8by8 Magazine


Em 1979, a banda The Clash escreveu e gravou London Calling, o álbum duplo, que foi o seu melhor momento artístico. Mesmo sendo lançado nos Estados Unidos somente em janeiro de 1980, ele seria aclamado, 10 anos mais tarde, pela Rolling Stone como “o álbum da década.”


Quando eles começaram a trabalhar na sua obra prima, estavam no seu ponto mais baixo. Com a demissão do empresário Bernie Rhodes e o seu sucessor temporário, o grupo ficou sem apoio empresarial; a não ser entre eles mesmos.


E foi o futebol, tanto quanto a sua suprema capacidade de escrever canções, que os puxou para o estado mental necessário para escrever e gravar o álbum.


Colocando-se em forma para escrever as canções de London Calling, o Clash, jogou longas partidas de futebol todas as tardes no campo de recreação em frente ao Vanilla, o seu estúdio de ensaios em Pimlico, no Centro de Londres.


“Eu acho que nós realmente nos encontramos naquele tempo e isso tinha muito a ver com o futebol”, disse o fundador e guitarrista do Clash, Mick Jones. “Porque isto nos fez jogar juntos como se fossêmos um”.


2. Capa do álbum London Calling (All Music)


“Nós jogávamos várias partidas de futebol até quando não conseguíamos dar mais nenhum chute, Joe Strummer me disse, no ano seguinte. “E então nós começamos a jogar e escrever música. Esta era a nossa maneira de nos aquecer.”


Todo dia, por volta das quatro da tarde, garotos da escola das redondezas vinham bater na porta da frente do Vanilla: “Vocês podem sair pra jogar?”


“Eles eram típicos garotos da classe trabalhadora de Londres, com idades entre 9 e 13 anos, da escola local”, disse Andrew Leslie, que administrava o Vanilla. “Eles tinham visto o Clash jogando uns contra os outros e se juntaram à brincadeira e isto se tornou uma coisa regular”.


“Eu acho que eles estavam vagamente conscientes que estavam num grupo -  e eles poderiam gabar-se disso na escola. E foi um bom tempo para o grupo ter uma pausa: eles poderiam começar a trabalhar por volta de uma hora da tarde. E também jogavam uns contra os outros com os garotos; dois num time, dois no outro”, completa Leslie.


“Topper particularmente gostava de um bom bate-bola, provavelmente o melhor jogador”, disse Leslie, sobre o diminuto baterista, Topper Headon, que estava sempre em forma por treinar bastante para imitar as proezas de caratê do seu ídolo Bruce Lee.


3. Os componentes da banda, da esquerda para direita, Topper Headon, Mick Jones, Joe Strummer e Paul Simonon (Getty Images)

Jones era chamativo, relembrou o gerente de turnê Johnny Green, mas suas habilidades não correspondiam à sua ambição; Strummer era incessantemente determinado, mas lhe faltava habilidade verdadeira e, o baixista Paul Simonon também estava sempre entusiasmado.


Antes de descobrir o rock’n’roll, Jones havia mergulhado na cultura futebolística. Além disso, em idade similar ao das crianças que batiam à porta do Vanilla, ele se juntava a outros fãs pré-adolescentes todo sábado pela manhã do lado de fora da fileira dos hotéis, ao redor da Russell Square, pois times de fora da cidade podiam ficar hospedados por ali antes de uma partida na capital.


Com os autógrafos dos jogadores assegurados, Jones poderia então viajar através da cidade para assistir uma partida, tanto do Chelsea ou do Queens Park Rangers.


“Você podia escalar pela cerca de linha de metrô em Chelsea. Uma vez eu fiquei preso, rasgando minha perna no arame farpado, e quase fui pego. Primeiro eu fui caçador de autógrafos de jogadores. Então você passa daquela idade, e o rock’n’roll estava diante de mim – eu me tornei um grande fã de música e queria estar numa banda”, disse Jones.


“Mas colecionar autógrafos de jogadores me manteve em bom lugar. Porque alguns daqueles futebolistas eram realmente poderosos e arrogantes – não quero mencionar nenhum nome, mas poderia se quisesse. Como eles tratavam você foi uma boa lição sobre como não tratar os outros, quando você se encontrar numa posição alta e influente.” De fato, o tratamento magnânimo dado pelo Clash aos seus fãs se tornou parte da sua lenda.

4. Guy Stevens e Mick Jones (Getty Images)

E o permanente amor de Jones pelo futebol e pela música – dividido com os outros membros do Clash, especialmente Strummer – personifica como o futebol e o rock’n’roll eram as tradicionais válvulas de escape, notadamente para os jovens, do tédio sonolento que a vida diária do Reino Unido proporcionava naquela idade.


Durante a Era London Calling, Strummer vivia com sua namorada, Gaby Salter, e a mãe dela, num conjunto habitacional não muito distante do campo do Chelsea, Stamford Bridge; a propriedade estava bem atrás do Tâmisa: as letras da britânica canção “London Calling” declaram: “Eu vivo pelo rio.” Quando o blues estava tocando em casa, ele podia ir às partidas aos sábados à tarde.


Acompanhando-o certamente deveriam estar a garota de 12 anos, Josie Ohendjan, que mais tarde se tornaria babá das duas filhas de Strummer; o irmão de Gaby, de dezesseis anos, Nicky; o colega de escola de Nicky, Black John; e Crispin Chetwynd, um amigo da família. Não só, se encontrando na casa da mãe de Gaby, eles podiam fumar um baseado e ficar de cabeça feita para o trajeto de 10 minutos até o campo. Lá, tendo pago um par de libras, eles podiam ficar na Shed.


Strummer era um torcedor do Chelsea: ele lia tudo o que podia sobre os Blues. Ainda que aqueles fossem dias difíceis para o time do Oeste de Londres, mergulhados na Second Division.


De acordo com Ohendjan, entretanto, Strummer: “amava o tribalismo disto, o movimento, juntando-se às cores. Joe vivia próximo, era um fã e realmente gostava daquela sensação de ser um torcedor”.


O que nunca incomodava Strummer era “a violência e o racismo.” Foi algumas temporadas antes que Paul Canoville se tornasse o primeiro jogador negro do Chelsea, frequentemente cumprimentado pelos seus próprios torcedores com bananas jogadas dentro do campo e cânticos de “nós não queremos o negro”.


5. Paul Canoville (Getty Images)


Além disso, torcedores da pesada do Chelsea eram notórios por conter elementos da Frente Nacional: a facção de extrema direita. Logo, jogadores negros de times visitantes recebiam tratamento similar em Stamford Bridge.


A identidade visual do homem que escreveu “(Homem Branco) em Hammersmith Palais” não causou qualquer problema nos jogos, entretanto, “em Stamford Bridge, Joe podia ser reconhecido”, disse Ohendjan. “Nós éramos punks e nos destacávamos entre os skinheads, mas ele não era incomodado”.


O baterista dos Sex Pistols, Paul Cook, também era frequentador assíduo de Stamford Bridge, bem como Suggs McPherson e Chas Smash da banda Madness – três dos quais ainda vão às partidas no campo do Chelsea até hoje.


Mas, após um jogo contra o West Ham, em setembro de 1980 (vitória dos Hammers por 1 a 0 em Stamford Bridge no dia 6), Strummer e a sua turma foram perseguidos pelos torcedores dos Hammers, que brandiam facas Stanley e canivetes.


“Nós tivemos que correr o mais rápido possível até a lanchonete, que vendia peixe frito e batatas, oposta onde Joe estava morando,” recorda Ohendjan. “Foi assustador. Todos nós, inclusive Joe, decidimos parar de ir ao campo por um tempo após aquilo”.


Outro time de Londres, todavia, se provaria uma inspiração para London Calling. O material escrito em Vanilla para o álbum foi gravado no Wessex Studios em Highbury, Norte de Londres, em agosto e setembro de 1979.


Highbury era a casa do Arsenal e o produtor do estúdio, Guy Stevens, um lendário e excêntrico aventureiro na cena musical britânica, era um torcedor fanático do clube.


6. Liam Brady (Getty Images)


Descobrindo que alguns dos componentes da equipe que cuida do gramado do Arsenal eram fãs do Clash e, conspirando com eles, Stevens estabeleceu um ritual diário, que ele sentiu poderia adicionar magia ao que estava tentando injetar no novo disco: o táxi contratado para levá-lo todas as manhãs para Wessex tinha que fazer um leve desvio, parando no campo do Arsenal.


Lá, Stevens saía brevemente do veículo e entrava no círculo central de Highbury, onde  se ajoelhava e prestava homenagem à sua imagem mental do meia-atacante do time, Liam Brady. Então, ele continuava o seu caminho para Wessex.


Após finalmente London Calling chegar às lojas, Strummer retornou ao campo do Chelsea para assistir um jogo. Ao deixar Stamford Bridge naquele sábado à tarde, ele viu numa filial local da cadeia de lojas Our Price Discos, onde descobriu algo ainda mais perturbador do que os torcedores skinheads do West Ham portando facas.


Para seu horror uma cópia do recém-lançado London Calling estava à venda por £7,99 – o Clash havia decretado que o disco não poderia ser vendido por não mais de £5, o valor de um single.


Assim, furioso, Strummer discutiu severamente com o gerente da loja até que o preço fosse reduzido à quantia estipulada. Então, ele se juntou novamente à multidão de fãs que estava deixando o campo do Chelsea.


7. Paul Cook, ex-Sex Pistols, com um fanzine do Chelsea em frente de Craven Cottage (Twitter Chelsea UK)


Tradução: Sandro Pontes

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