Pegando gancho no Dia Mundial do Rock, trazemos até vocês como o futebol influenciou, direta e
indiretamente, na produção do melhor álbum da história da banda de punk rock
londrina The Clash.
A curiosidade, e posterior achado deste
material que foi traduzido, deu-se quando começou a se pesquisar a razão de
sempre nos jogos dos Gunners, tanto antes do começo quanto nos intervalos tocar
músicas do Clash (principalmente London Calling).
Se trata de uma matéria de uma revista
de futebol americana (!!) chamada 8 by 8 Magazine e o seu autor original, Chris
Salewicz, escreveu durante um bom tempo para o periódico musical londrino New
Musical Express (também conhecido como NME, atualmente só existe a versão
online, pois a versão impressa foi descontinuada em março de 2018).
De acordo com um trecho retirado da sua
vida, relatado no Wikipedia: “O tempo de Salewicz na NME o ajudou a forjar uma
relação única de amizade com dois homens que redefiniram a música nos anos
1970s, 1980s e 1990s: Joe Strummer (do Clash) e Bob Marley”.
Excelente matéria que, além de abordar
a evidente relação que o futebol trouxe para o Clash, numa época em que a banda
estava meio em baixa no que diz respeito à criatividade artística, ainda traz
um pouco de hooliganismo e também do racismo que permeava o futebol inglês
naquele fim de anos 1970s e começo dos 1980s.
Boa leitura.
1. Distintivos de Chelsea e Arsenal (Pinterest) |
Como o futebol deu forma ao melhor
álbum do The Clash
Por Chris Salewicz ©, 25 de
junho de 2015, Edição 05, Revista 8by8 Magazine
Em 1979, a banda The Clash escreveu e
gravou London Calling, o álbum duplo, que foi o seu melhor momento artístico. Mesmo sendo lançado nos Estados
Unidos somente em janeiro de 1980, ele seria aclamado, 10 anos mais tarde, pela
Rolling Stone como “o álbum da década.”
Quando eles começaram a trabalhar na
sua obra prima, estavam no seu ponto mais baixo. Com a demissão do empresário
Bernie Rhodes e o seu sucessor temporário, o grupo ficou sem apoio empresarial;
a não ser entre eles mesmos.
E foi o futebol, tanto quanto a sua
suprema capacidade de escrever canções, que os puxou para o estado mental
necessário para escrever e gravar o álbum.
Colocando-se em forma para escrever as
canções de London Calling, o Clash, jogou longas partidas de futebol todas as
tardes no campo de recreação em frente ao Vanilla, o seu estúdio de ensaios em
Pimlico, no Centro de Londres.
“Eu acho que nós realmente nos encontramos
naquele tempo e isso tinha muito a ver com o futebol”, disse o fundador e
guitarrista do Clash, Mick Jones. “Porque isto nos fez jogar juntos como se
fossêmos um”.
2. Capa do álbum London Calling (All Music) |
“Nós jogávamos várias partidas de
futebol até quando não conseguíamos dar mais nenhum chute, Joe Strummer me
disse, no ano seguinte. “E então nós começamos a jogar e escrever música. Esta
era a nossa maneira de nos aquecer.”
Todo dia, por volta das quatro da
tarde, garotos da escola das redondezas vinham bater na porta da frente do Vanilla:
“Vocês podem sair pra jogar?”
“Eles eram típicos garotos da classe
trabalhadora de Londres, com idades entre 9 e 13 anos, da escola local”, disse
Andrew Leslie, que administrava o Vanilla. “Eles tinham visto o Clash jogando
uns contra os outros e se juntaram à brincadeira e isto se tornou uma coisa
regular”.
“Eu acho que eles estavam vagamente
conscientes que estavam num grupo - e
eles poderiam gabar-se disso na escola. E foi um bom tempo para o grupo ter uma
pausa: eles poderiam começar a trabalhar por volta de uma hora da tarde. E
também jogavam uns contra os outros com os garotos; dois num time, dois no
outro”, completa Leslie.
“Topper particularmente gostava de um
bom bate-bola, provavelmente o melhor jogador”, disse Leslie, sobre o diminuto
baterista, Topper Headon, que estava sempre em forma por treinar bastante para
imitar as proezas de caratê do seu ídolo Bruce Lee.
3. Os componentes da banda, da esquerda para direita, Topper Headon, Mick Jones, Joe Strummer e Paul Simonon (Getty Images) |
Jones era chamativo, relembrou o
gerente de turnê Johnny Green, mas suas habilidades não correspondiam à sua
ambição; Strummer era incessantemente determinado, mas lhe faltava habilidade
verdadeira e, o baixista Paul Simonon também estava sempre entusiasmado.
Antes de descobrir o rock’n’roll, Jones
havia mergulhado na cultura futebolística. Além disso, em idade similar ao das
crianças que batiam à porta do Vanilla, ele se juntava a outros fãs
pré-adolescentes todo sábado pela manhã do lado de fora da fileira dos hotéis,
ao redor da Russell Square, pois times de fora da cidade podiam ficar
hospedados por ali antes de uma partida na capital.
Com os autógrafos dos jogadores
assegurados, Jones poderia então viajar através da cidade para assistir uma
partida, tanto do Chelsea ou do Queens Park Rangers.
“Você podia escalar pela cerca de linha
de metrô em Chelsea. Uma vez eu fiquei preso, rasgando minha perna no arame
farpado, e quase fui pego. Primeiro eu fui caçador de autógrafos de jogadores.
Então você passa daquela idade, e o rock’n’roll estava diante de mim – eu me
tornei um grande fã de música e queria estar numa banda”, disse Jones.
“Mas colecionar autógrafos de jogadores
me manteve em bom lugar. Porque alguns daqueles futebolistas eram realmente
poderosos e arrogantes – não quero mencionar nenhum nome, mas poderia se
quisesse. Como eles tratavam você foi uma boa lição sobre como não tratar os outros,
quando você se encontrar numa posição alta e influente.” De fato, o tratamento
magnânimo dado pelo Clash aos seus fãs se tornou parte da sua lenda.
4. Guy Stevens e Mick Jones (Getty Images) |
E o permanente amor de Jones pelo
futebol e pela música – dividido com os outros membros do Clash, especialmente
Strummer – personifica como o futebol e o rock’n’roll eram as tradicionais
válvulas de escape, notadamente para os jovens, do tédio sonolento que a vida
diária do Reino Unido proporcionava naquela idade.
Durante a Era London Calling, Strummer
vivia com sua namorada, Gaby Salter, e a mãe dela, num conjunto habitacional
não muito distante do campo do Chelsea, Stamford Bridge; a propriedade estava
bem atrás do Tâmisa: as letras da britânica canção “London Calling” declaram:
“Eu vivo pelo rio.” Quando o blues estava tocando em casa, ele podia ir às
partidas aos sábados à tarde.
Acompanhando-o certamente deveriam
estar a garota de 12 anos, Josie Ohendjan, que mais tarde se tornaria babá das
duas filhas de Strummer; o irmão de Gaby, de dezesseis anos, Nicky; o colega de
escola de Nicky, Black John; e Crispin Chetwynd, um amigo da família. Não só,
se encontrando na casa da mãe de Gaby, eles podiam fumar um baseado e ficar de
cabeça feita para o trajeto de 10 minutos até o campo. Lá, tendo pago um par de
libras, eles podiam ficar na Shed.
Strummer era um torcedor do Chelsea:
ele lia tudo o que podia sobre os Blues. Ainda que aqueles fossem dias difíceis
para o time do Oeste de Londres, mergulhados na Second Division.
De acordo com Ohendjan, entretanto, Strummer:
“amava o tribalismo disto, o movimento, juntando-se às cores. Joe vivia
próximo, era um fã e realmente gostava daquela sensação de ser um torcedor”.
O que nunca incomodava Strummer era “a
violência e o racismo.” Foi algumas temporadas antes que Paul Canoville se
tornasse o primeiro jogador negro do Chelsea, frequentemente cumprimentado
pelos seus próprios torcedores com bananas jogadas dentro do campo e cânticos
de “nós não queremos o negro”.
5. Paul Canoville (Getty Images) |
Além disso, torcedores da pesada do
Chelsea eram notórios por conter elementos da Frente Nacional: a facção de
extrema direita. Logo, jogadores negros de times visitantes recebiam tratamento
similar em Stamford Bridge.
A identidade visual do homem que
escreveu “(Homem Branco) em Hammersmith Palais” não causou qualquer problema
nos jogos, entretanto, “em Stamford Bridge, Joe podia ser reconhecido”, disse
Ohendjan. “Nós éramos punks e nos destacávamos entre os skinheads, mas ele não
era incomodado”.
O baterista dos Sex Pistols, Paul Cook,
também era frequentador assíduo de Stamford Bridge, bem como Suggs McPherson e
Chas Smash da banda Madness – três dos quais ainda vão às partidas no campo do
Chelsea até hoje.
Mas, após um jogo contra o West Ham, em
setembro de 1980 (vitória dos Hammers por 1 a 0 em Stamford Bridge no dia 6),
Strummer e a sua turma foram perseguidos pelos torcedores dos Hammers, que
brandiam facas Stanley e canivetes.
“Nós tivemos que correr o mais rápido
possível até a lanchonete, que vendia peixe frito e batatas, oposta onde Joe
estava morando,” recorda Ohendjan. “Foi assustador. Todos nós, inclusive Joe,
decidimos parar de ir ao campo por um tempo após aquilo”.
Outro time de Londres, todavia, se
provaria uma inspiração para London Calling. O material escrito em Vanilla para
o álbum foi gravado no Wessex Studios em Highbury, Norte de Londres, em agosto
e setembro de 1979.
Highbury era a casa do Arsenal e o produtor
do estúdio, Guy Stevens, um lendário e excêntrico aventureiro na cena musical
britânica, era um torcedor fanático do clube.
6. Liam Brady (Getty Images) |
Descobrindo que alguns dos componentes
da equipe que cuida do gramado do Arsenal eram fãs do Clash e, conspirando com
eles, Stevens estabeleceu um ritual diário, que ele sentiu poderia adicionar
magia ao que estava tentando injetar no novo disco: o táxi contratado para
levá-lo todas as manhãs para Wessex tinha que fazer um leve desvio, parando no
campo do Arsenal.
Lá, Stevens saía brevemente do veículo
e entrava no círculo central de Highbury, onde se ajoelhava e prestava homenagem à sua imagem
mental do meia-atacante do time, Liam Brady. Então, ele continuava o seu
caminho para Wessex.
Após finalmente London Calling chegar
às lojas, Strummer retornou ao campo do Chelsea para assistir um jogo. Ao
deixar Stamford Bridge naquele sábado à tarde, ele viu numa filial local da
cadeia de lojas Our Price Discos, onde descobriu algo ainda mais perturbador do
que os torcedores skinheads do West Ham portando facas.
Para seu horror uma cópia do
recém-lançado London Calling estava à venda por £7,99 – o Clash havia decretado
que o disco não poderia ser vendido por não mais de £5, o valor de um single.
Assim, furioso, Strummer discutiu
severamente com o gerente da loja até que o preço fosse reduzido à quantia estipulada.
Então, ele se juntou novamente à multidão de fãs que estava deixando o campo do
Chelsea.
7. Paul Cook, ex-Sex Pistols, com um fanzine do Chelsea em frente de Craven Cottage (Twitter Chelsea UK) |
Tradução: Sandro Pontes
Nenhum comentário:
Postar um comentário