No ano
2000, a extinta revista de futebol inglesa “Total Football” produziu uma
matéria muito interessante chamada Noites Gloriosas (Glory Nights), onde ela
contava detalhes de importantes times britânicos contra adversários
qualificados nos, então, 45 anos de torneios europeus.
Seis
partidas mereceram destaque: Celtic versus Leeds United, em 1970; Liverpool versus
Saint Ettiene, em 1977; Nottigham Forest versus Colônia, em 1979,
Everton versus Bayern Munique, em 1985; Newcastle versus Barcelona, em 1996; e
Manchester United versus Juventus, em 1999.
O jogo escolhido
para o dia de hoje é o combate entre o Liverpool e o Saint Ettiene, que assumiu
proporções épicas.
Eram
quartas de final da Copa dos Campeões. Os franceses haviam ganho a primeira
partida na França por 1 a 0.
Também é
importante ressaltar que o Saint Ettiene era um time muito experiente tendo,
inclusive, chegado à final da Copa dos Campeões da Europa na temporada anterior
(1975-76), onde havia perdido para o Bayern Munique que alcançava, assim o seu
tricampeonato, enquanto o Liverpool ainda não conhecia a glória de chegar a uma
final do prestigiado torneio europeu.
Os Reds
haviam sido os campeões da Copa da Uefa na temporada anterior, mas como também haviam
sido campeões da Inglaterra, foram disputar a Copa dos Campeões.
Bob Paisley
já começava a sair da sombra do lendário Bill Shankly ao começar a ganhar
títulos, mas faltava ainda uma conquista maior.
Sabe aquela
velha história de “havia uma pedra no caminho”? Pois é, neste caso, havia um
Saint Ettiene no meio do caminho, no meio do caminho havia um Saint Ettiene!
Sabe aquele
herói improvável? Pois é, também tem para dar um tom mais dramático ao enredo!
Boa leitura.
1. Programa oficial da partida (Pinterest) |
“Eu lembro
como se fosse hoje, não há 23 anos atrás”, disse David Fairclough, o substituto
que marcou o gol que preparou o caminho para sua primeira vitória em final de
Copa dos Campeões da Europa numa noite que nunca será esquecida em Anfield.
Fairclough
pode recontar os eventos daquela noite de março em detalhes pormenorizados, e
este é um conto que ele claramente saboreia em narrar novamente.
“Eu posso
me recordar do desenrolar do jogo claramente”, ele diz. “Esta sempre será uma
grande partida. O Saint Ettiene era uma força a ser reconhecida e eles
obtiveram uma vitória de 1 a 0 na primeira partida, logo nós sabíamos que esta
seria uma hora decisiva. Não seria fácil e isso capturou a imaginação dos
torcedores”, completa Fairclough.
Isso era
bastante verdade. O Liverpool chegou tão longe ao bater os Crusaders da Irlanda
por 7 a 0 no placar agregado, então o Tranbzonspor por 3 a 1 após um susto na
primeira partida da Turquia, mas o Saint Ettiene estava num nível acima.
2. Capitães dos times trocando flâmulas antes da bola rolar (Getty Images) |
“Chegando
em Anfield na noite do jogo eu nunca vi tanta gente na Anfield Road”, ele
recorda. “Ver o campo cheio de bandeiras e cores foi especial. Esta não seria
uma noite ordinária qualquer!”
“Eu estava
no banco e, após alguns minutos Kevin Keegan marcou com um golpe de sorte. Ele,
numa cobrança de escanteio curta, conduziu a bola pelo lado esquerdo, próximo a
grande área e, então, chutou a bola alto em direção ao goleiro, que estava
indeciso, e o vento fez o resto ao fazê-la cair dentro do gol”.
Mas no
começo da segunda etapa o Saint Ettiene assumiu a liderança do placar agregado
com um fabuloso chute de longa distância de Bathenay. Um golaço. Agora o
Liverpool precisava marcar duas vezes para se classificar.
“Havia a
sensação de que não seria possível”, diz Fairclough. “Até seria possível marcar
um gol, nunca dois. Parecia fora do nosso alcance. Falaram para eu me aquecer,
quando faltavam uns vinte minutos para a partida acabar e, enquanto eu estava
tirando o meu agasalho para começar o processo de aquecimento, Ray Kennedy
marcou! Eu pensei: nós temos uma chance, então”.
3. David Fairclough se preparando para entrar (Getty Images) |
“Bob
Paisley apenas disse para mim “entre lá e veja se você consegue jogar um
pouquinho” Esta sempre foram suas orientações, ver se você conseguia algo nos
minutos finais do jogo”, pontua Fairclough.
Fairclough
fez algo especial faltando apenas oito minutos para o fim do jogo.
“Ray
Kennedy deu um passe na minha direção, eu lutei pela bola ferozmente com Lopez
durante corrida, ela sobrou para mim a uns 32 metros do gol e o campo livre
para avançar rapidamente. Então, ao me aproximar do gol, eu me certifiquei de
chutar a bola em direção ao gol. O goleiro saiu desesperado para abafar a
jogada. Eu aprendi que se você chutar a bola próximo ao goleiro ele terá
dificuldade em cair para bloquear o seu chute. Parecia que não tinha sido o
melhor chute, mas bola passou por baixo dele”.
Então veio
o barulho e este fez o estádio tremer em sua estrutura.
4. O gol para história de Fairclough (Liverpool Echo) |
“Eu estava muito tranquilo até o barulho
chegar aos meus ouvidos, então eu vi que tinha feito algo muito especial. Quando
você está jogando é como se você fosse surdo ou que você está debaixo d’água. A
sua concentração é tão grande que tudo que você está consciente é uma espécie
de zumbido ao redor. Mas depois que marquei saí correndo e pulando em frente da
Kop, eles estavam descontrolados e Jimmy Case agarrou-me pra comemorar. No
apito final eu simplesmente me sentia aliviado. Alguns dos jogadores mais
velhos enlouqueceram porque eles sabiam o que tudo aquilo significava. Eu era
jovem e pensava que aquilo acontecia o tempo todo!”
Não houve
uma celebração mais selvagem do que aquela, para Fairclough todavia: “estava um
pouco tarde e eu não era um grande bebedor, mas eu disse ao meu parceiro: vamos
sair para tomar umas? Então nós fomos ao pub onde estávamos acostumados a
frequentar, o Bulldog.
“Eram umas
dez e meia e ele estava absolutamente lotado. Nós pensamos que não
conseguiríamos uma bebida. Nós pensamos que Ted poderia ter posto as toalhas na
mesa. Então eu fui para casa e assisti à partida na televisão com minha mãe. Eu
provavelmente teria conseguido uma bebida. Alguém disse mais tarde “naquela
noite Liverpool inteira foi sua!” Mas eu não havia percebido a importância do
que havia sido feito”, arremata Fairclough.
5. Lance do jogão em Anfield (Liverpool Echo) |
Ficha técnica da partida:
Liverpool 3 (Keegan, Kennedy, Fairclogh) Saint Ettiene
1 (Bethanay)
Locar:
Anfield
Data: 16 de
março de 1977
Segunda
partida das quartas de final da Copa dos Campeões da Europa
Público: 55.043
Liverpool: Clemence,
Neal, Jones, Smith, Kennedy, Hughes, Keegan, Case, Heighway, Toshack
(Fairclough) e Callagham.
Saint
Ettiene: Curkovic, Janvion, Farison, Merchadier (H Revelli),
Lopez, Bethanay, Rocheteau, Larque, P Revelli, Synaegi e Santini.
Homem da partida: Ray Kennedy “Ele foi simplesmente magnífico a noite
toda!” David Fairclough
“Allez les
rouges! Allez les rouges!” A Kop paga tributo ao Saint Ettiene ao adaptar um
cântico francês em honra ao seu próprio time. (Os franceses do Saint Ettiene
sempre cantam “Allez les verts!”)
Alex Murphy
©, Revista Total Football © (2000).
6. Jornal destacando o feito de Fairclough (Pinterest) |
Tradução:
Sandro Pontes
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