quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Norwich City 1 Sunderland 0 – Final da League Cup 1985


O ano de 1985 marcou mais uma conquista de League Cup pelos Canários, conquistada contra os Black Cats em Wembley em 24 de março.

A caminhada até o título também ficou marcada pelo fato de, nas semifinais, os Canários terem eliminado o seu grande rival Ipswich Town.

Alguns esclarecimentos antes de se passar à matéria propriamente dita:

Vale a pena falar um pouco sobre o incêndio em Carrow Road (que levou ao uso temporário de construções removíveis), extraído da ITV Anglia, matéria de 25 de outubro de 2014:

Hoje marca o 30º aniversário do incêndio de 1984 que destruiu a arquibancada principal do Norwich City Football Club.

35 bombeiros passaram horas até dominar as chamas, com o clube perdendo fotografias, troféus e anos de tradição.

Arquibancada foi finalmente reconstruída em 1987”.

1. Ingresso e programa oficial do jogo (eBay)

Consequentemente a expressão que deixei em inglês – Portakabin –, como no original, merece ser aprofundada um pouco mais (explicação essa extraída da Wikipedia):

Uma construção portátil, desmontável ou transportável, é uma construção desenhada e feita para ser mais removível do que permanecer fixa num local.

Um design moderno é comumente chamado de construção modular, mas construções portáteis podem ser diferentes no seu formato e são mais frequentemente usadas temporariamente e removidas mais tarde.

No Reino Unido as palavras "portakabin", "portacabin", "bunkabin" e "terrapin" são comumente usadas para descrever estas construções”.

Quando se fala na irritante descida ou subida das estradas, parece sinalizar no sentido de que o Norwich tem que encarar uma grande descida na estrada que leva os Canários até Portman Road, enquanto os Black Cats têm que encarar uma subida de estrada para chegar até St James Park, estádios dos seus principais adversários.

A menção ao jovem zagueiro e o Bambi faz uma comparação com o desenho animado do personagem Disney que, ainda muito novo, entra num lago congelado e não consegue se firmar em pé, escorregando várias vezes.

Dadas as devidas explicações, é hora de recordar os detalhes de mais uma grande partida na história dos Canários.

Boa leitura.

2. Escombros do incêndio que destruiu parte de Carrow Road (ITV)

Norwich City 1 Sunderland 0 – Final da League Cup 1985

Você tinha que estar lá. O dia começou, como para muitos das legiões de torcedores viajantes do Norwich, no escuro.

Uma madrugada fria e úmida, a respiração aparecendo no ar gelado quando eles começaram a bater os pés para manterem-se aquecidos, esperando pela primeira frota de ônibus que os levaria para a Meca do futebol.

A terceira final de League Cup em 13 anos. Terceira vez e, quem sabe, sortudos desta vez? Os viajantes veteranos estavam otimistas.

Eles tinham testemunhado a triste derrota para o Tottenham em 1973 seguida por um desapontador revés, com um time insatisfatório e de poucos recursos técnicos dois anos depois, contra o Aston Villa, e foi uma derrota ainda mais dolorosa pelo fato do treinador do Villa ser Saunders. Que também era Ron.

Nós queríamos muito batê-los e esfregar a conquista naquela cara sisuda. Não queríamos que o Villa ganhasse. E a expressão sisuda dele pareceu um pouco mais dura para nós naquele dia.

Mas desta vez seria diferente, porque estávamos jogando contra o Sunderland.

3. Taças danificadas pelo incêndio que consumiu parte de Carrow Road (ITV)

O Norwich não tinha razão para odiar o Sunderland. Nenhuma. Como os Canários eles eram um time moldado no trabalho duro e na dedicação, seguidos por torcedores barulhentos e devotados.

Eles também tinham uma irritante descida (no caso deles subida) na estrada. O Norwich tinha o Ipswich, eles tinham o Newcastle. E, como o Norwich, eles não estavam entre os queridinhos da TV e dos jornais.

Nenhum dos veículos de comunicação trabalhou em matérias sobre ambos os clubes e seus jogadores, ninguém chamou a atenção dos seus leitores ou telespectadores para a final que coroaria um novo campeão.

De todo modo ambos chegaram lá: times decentes, treinadores honestos, bons jogadores. Somente neste ano havia uma pequena recompensa pelos seus esforços – um dia para aproveitar em Wembley.

Ambos clubes estiveram no mítico estádio em 1973. Dois meses e um pouco após o Norwich ter sido derrotado pelo time de Ralph Coates e companhia, o Sunderland teve o seu dia na chuva contra o “poderoso” (era um requisito legal na época: sempre prefixar o nome do time com a expressão “poderoso”) Leeds United na final da FA Cup, encantando uma nação inteira, salvo uma Leeds em ebulição, colocando os valentões no seu devido lugar com a merecida vitória.

O Norwich havia perdido, o Sunderland ganho. Logo esta era a vez do Norwich. Tempo para o Sunderland saber como é sentir o gosto da derrota sobre as luzes das famosas torres gêmeas de Wembley.

Havia um argumento que, não importa como, aconteceu na caminhada até Wembley e poderia praticamente superar a alegria e satisfação de derrubar o Ipswich nas semifinais. É o tipo de circunstância que a maioria dos roteiristas teria considerado e rapidamente rejeitado. Fantástico demais. Um conto de fadas. Voltemos um pouco à realidade. A realidade foi próxima à fantasia, contudo.

4. Programa oficial da segunda partida das semifinais da League Cup de 1985, os Canários ganharam por 2 a 0 do Ipswich Town (eBay)

Derrotados na primeira partida das semifinais os Canários se deram felizes por terem perdido por somente um gol. O goleador do seu oponente acabou saindo machucado no começo do segundo jogo. O Norwich voltou ao jogo com um gol em que a bola desviou num adversário, mais sorte.

E então, restando poucos minutos para o fim do jogo e a prorrogação já apontando no horizonte um zagueiro ainda jovem e inexperiente, braços e pernas, uma espécie de Bambi ocasional escorregando no gelo, que marcou um gol contra com dois minutos de jogo na sua estreia, migrou do seu território familiar, de dentro da sua própria área e, na área oposta, subiu para cabecear o gol que valeu a vaga na final. Uma cabeçada tão forte quanto um chute. Uma glória de último minuto. Extraordinário? Talvez... Mas foi isso o que aconteceu.

Então sim, uma grande noite e dia se seguiram. Naquele tempo o clube estava jogando num estádio de três lados, pois uma das arquibancadas havia se incendiado na temporada anterior e estava em processo de reconstrução (o que incluía os vestiários e sala de troféus).

O Norwich e os seus oponentes eram obrigados a se preparar para os jogos e se trocar numa construção portátil (Portakabin) como resultado do incêndio.

O fogo danificou tanto os troféus, honrarias e souvenires ganhos ao longo dos anos desde a sua formação – idealmente, portanto, seria perfeito para a nova arquibancada e sala de troféus que fosse erguido, simbolicamente, das cinzas do velho local, um novo troféu para ser o elemento central, ainda que não fosse a taça da League Cup, um troféu familiar a todos, mas um novo desenhando pelo patrocinador da competição, Dairy Crest. Desde então comercialmente conhecido como a final Milk Cup. Para todos era, e sempre tinha sido, a final da League Cup.

Em suma, a temporada 1984-85 estava parecendo ser muito boa para o clube. Ken Brown tinha adicionado o promissor e ainda inexperiente Steve Bruce ao lado do veterano Asa Hartford no time, bem como promoveu a estreia do igualmente promissor Dale Gordon, egresso das categorias de base dos Canários.

E ainda, em adição a tudo isso, numa transferência que ficou conhecida como uma espécie de golpe de mestre naquele tempo, Brown contratou o atacante do Sunderland Gary Rowell para o time.

 
5. Card de Greg Downs (eBay)

Rowell se tornou um herói folclórico em Roker Park ao marcar 102 gols em 293 aparições de Liga e sua aquisição sem custos de transferência pareceu um bom negócio para ambos os lados: treinador e jogador.

O fim de semana antes da final viu o Norwich confortavelmente posicionado no 11º lugar da tabela de classificação da First Division. Um emocionante empate em 2 a 2 com o Aston Villa em Carrow Road em 9 de março foi significativo pelo fato de que havia sido Rowell, entrando como substituto, quem marcou o gol de empate faltando cinco minutos para o término da partida. Seria ele um candidato a herói?

Com uma semana e um dia para a decisão, o Norwich encarou – a partida sorteada pelo computador, que confeccionava a tabela no começo da temporada, que acabou virando uma espécie de estripulia eletrônica – um jogo caseiro contra o seu oponente da final em Wembley, o Sunderland.

Tais jogos, concebidos como uma espécie de “prévia da grande final” são, é claro, um pesadelo para os treinadores.

Eles deveriam mostrar o seu time e as estratégias planejadas para a finalíssima ou escolher um time muito modificado e com táticas diferentes das quais seriam usadas na decisão, esperando que o opositor fosse despistado? Quem poderia prever o que aconteceria?

O Norwich, da sua parte, fez o seu melhor para enganar o adversário tendo uma atuação insatisfatória e perdendo o jogo por 3 a 1 – somente a sua terceira derrota em casa na temporada e a segunda vitória do Sunderland como visitante, sendo que a primeira foi contra o Ipswich Town.

6. Dennis Van Wijk e Clive Walker disputam a bola em um dos lances da final (Getty Images)

Claramente havia algo no ar de East Anglian favorecia os Mackems – uma coisa boa, neste caso, é que a final seria em Londres.

Ambos treinadores minimizaram o resultado nas entrevistas pós-jogo, dizendo que o significado da partida começou e se encerrou naquele dia.

Naturalmente a vitória e sua relativa facilidade deve ter causado uma impressão no time do Sunderland – eles tinham mirado no lado esquerdo do Norwich e, ao fazer isso, deram ao lateral esquerdo dos Canários, Greg Downs, uma tarde tórrida; Wallace venceu a sua disputa pelo flanco do campo e passou por Downs antes de marcar o primeiro e dar assistência para o segundo gol – a pressão do Sunderland sobre Downs ainda resultou numa rebatida dele contra as próprias redes.

Ou seja, aquele dia não esteve entre os melhores antes da final em Wembley. Ken Brown, entretanto, gentil e compreensivo, o deixaria fora do time e ele estaria lá no banco de suplentes da equipe da final na semana seguinte, deixando a sua marca numa exibição magnífica fora de campo. 

O que, de fato, Downs fez. No seu traje de viagem, caminhando no perímetro fora do gramado quando os seus colegas de time já começavam a se preparar para o aquecimento, camisas amarelas brilhando por baixo dos seus agasalhos esportivos azuis claros.

Havia muitas gargalhadas no começo. Downs, vestido e calçado, tinha sentado onde estava uma câmera da BBC e fingia filmar aquelas hordas em verde e amarelo.

Ele sorriu, eles aplaudiram. Ele estava se portando bem, mesmo tendo sido sacado de uma final de copa. De todo modo ele teve o seu dia – e, se isso o machucou, ele não demonstrou externamente.

7. Asa Hartford, encoberto, chutando a bola que desviaria em Gordon Chisholm, camisa 5, e decretaria a derrota dos Black Cats (Colorspost)

O Norwich começou bem, criando chances e ganhando confiança. Mendham estava ocupado como nunca no meio de campo e, logo no começo do jogo, ele encontrou Donowa desmarcado e com muito espaço para avançar.

O jovem rapidamente passou a bola para Barham que desferiu um potente chute que passou um pouco acima da trave. Deehan esteve próximo de ameaçar a meta adversária com participação ativa de Donowa novamente.

Outro lance importante que acabou com uma cabeçada de Channon sendo rebatida e Deehan quase marcou no rebote.

O Sunderland resistiu à forte pressão exercida pelos Canários e ainda teve uma grande oportunidade quando Walker deu um belo passe para Walace que ficou cara a cara com Woods adiantado, mas Van Vijk correu na cobertura e evitou o pior.

Walker foi agarrado e derrubado dentro da área, seus braços levantados para o alto antes dele bater no chão, mas o árbitro não sinalizou nada na jogada que, num outro dia qualquer, seria marcado pênalti e o jogador responsável pelo lance teria sido expulso.

No começo do segundo tempo um despretensioso passe pelo lado esquerdo da defesa do Sunderland encontrou David Corner, jogando apenas a sua quinta partida pelo clube, que tentava proteger a bola até a linha de fundo para uma posterior cobrança de tiro de meta.

Porém, antes da bola sair, Corner, não se sabe se desdenhoso ou por inexperiência, deixou um atento Deehan pegar a bola antes dela sair e ainda passá-la por baixo das suas pernas, correr com ela sobre a linha de fundo e cruzar para Asa Hartford, veterano e talhado nos desafios dos jogos, o oposto do ainda verde e fresco Corner.

8. Clive Walker, camisa sete, desperdiçando a chance do empate ao chutar a bola pra fora na sua cobrança de pênalti (Getty Images)

Hartford tentou chutar a bola no gol de Turner, mas o seu chute acabou desviando no azarado Chisholm e entrou gol, para deleite dos torcedores do Norwich que estavam assistindo ao jogo e soltaram uma nuvem brilhante em verde e amarelo quando Deehan correu próximo deles com o punho em riste comemorando o gol.

Qual foi o destaque do Norwich na Copa? Um gol contra os levou a Wembley, e hoje mais um gol contra a beneficiá-lo? Não, este é o Norwich City. Leia e aprenda. Deve haver um susto, esta é a lei.

Outro ataque do Sunderland onde Venison entrou na área ameaçando a meta de Woods, mas Van Wijk deu um carrinho, mas não acertou Venison, que se manteve em pé e com a bola ainda em excelente posição para o chute, Wijk ainda deslizando no chão, sem alternativa, acaba pondo a mão na bola e cometendo um pênalti óbvio.

O Sunderland sentiu uma oportunidade para empatar e Walker, um excelente cobrador de pênaltis daquela época, caminhou resoluto uns dez passos para sua cobrança e depois voltou em largas passadas para executar o seu tiro.

Ele falhou em sua cobrança. A bola passou a centímetros de Woods, que ainda chegou a vê-la, e bem próxima da trave direita para fora.

Aquele pênalti perdido acabou resultando num restante de jogo fraco do Sunderland até o apito final, mas isso não era problema do Norwich que pôs suas mãos na taça e o capitão Dave Watson ergueu o troféu para o deleite de Ken Brown, de Mike Channon, que estava desfrutando do seu último dia no futebol – mas não no esporte – com o seu filho ao lado.

E ainda houve o impedimento da esperada aventura europeia na temporada seguinte, ao ganhar a League Cup, que era a participação na Copa da Uefa – pois aquele benefício, em última instância, não pôde ser usufruído, pois em seguida à violência na final da Copa dos Campeões da Europa entre Juventus e Liverpool, no fim da temporada, resultou na morte de 39 torcedores da Juventus e no consequente banimento dos clubes ingleses de competições europeias por cinco anos (o Liverpool, como diretamente envolvido no desastre, foi banido por seis).

9. Time do Norwich com a taça recém-conquistada (Getty Images)

Ficha técnica:

Norwich City 1 (Chisholm, contra) Sunderland 0

Local: Wembley

Data: 24 de março de 1985

Final da League Cup

Público: 100.000

Norwich: Chris Woods, Paul Haylock, Dave Watson (capitão), Steve Bruce, Dennis van Wijk, Mark Barham, Louie Donowa, Asa Hartford, Peter Mendham, Mick Channon, John Deehan.

Sunderland: Chris Turner, Gary Bennett, Barry Venison (capitão), Gordon Chisholm, David Corner (Howard Gayle), Steve Berry, Clive Walker, Nicky Pickering, Peter Daniel, David Hodgson, Ian Wallace.

Árbitro: Neil Midgley (Bolton) *

* Nowich City’s Greatest Games - Edward Couzens-Lake ©.

10. Série de cards alusivos à conquista (Nikolai Trading Cards)

Tradução: Sandro Pontes

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