No ano 2000, a extinta revista de futebol inglesa
“Total Football” produziu uma matéria muito interessante chamada Noites
Gloriosas (Glory Nights), onde ela contava detalhes de importantes times
britânicos contra adversários qualificados nos, então, 45 anos de torneios
europeus.
Seis
partidas mereceram destaque: Celtic versus Leeds United,
em 1970;
Liverpool versus Saint Ettiene, em 1977; Nottigham Forest versus Colônia, em
1979, Everton versus Bayern Munique, em 1985; Newcastle versus Barcelona, em
1996; e Manchester United
versus Juventus, em 1999.
A grande (e
última) partida que hoje relatamos foi o combate entre o Celtic Glasgow e o
Leeds United, no que ficou conhecido como a Batalha da Bretanha.
Importante
ressaltar que o Leeds United, sob o comando de Don Revie era um grande time,
especialmente da metade dos anos 60 até metade da década seguinte tendo,
inclusive chegado à final da Copa dos Campeões em 1975 (Revie já havia assumido
o comando do English Team em 1974, porém este ápice atingido pelo time ainda
era reflexo do trabalho dele).
O Celtic,
primeiro time britânico a vencer a Copa dos Campeões da Europa em 1967, também
era um time formidável e, do mesmo modo que o Leeds, teve o seu apogeu da
década de 60 até a metade da década de 70.
A principal
diferença para o seu rival inglês é que, neste mesmo período, os escoceses
tiveram maior sucesso em gramados europeus ao alcançarem duas finais de Copa
dos Campeões (1967 e 1970) e uma semifinal (1974).
A partida que
será narrada abaixo aconteceu após um primeiro jogo na Inglaterra, ganha pelos
escoceses por 1 a 0 (gol a um minuto de jogo), mesmo assim a imprensa inglesa
continuava a cravar o time do Leeds como o favorito a passar à final do
torneio...
Mas não foi
bem isso que se viu no Hampden Park.
Adicionalmente
trouxemos para vocês o suplemento da World Soccer sobre a Copa dos campeões de
1956-1994 que enriquece um pouco mais a narrativa.
Boa leitura.
1. Programa oficial da partida (eBay) |
Jock
Stein não precisou motivar os seus homens para sua partida de semifinal da Copa
Europeia contra o Leeds United.
Ele
simplesmente passou uma seleção de jornais ingleses pelo vestiário após o
sorteio ter sido realizado e deixou os seus jogadores absorverem os comentários
depreciativos dos escribas do sul da fronteira.
Pouco
importava que os Hoops haviam ganho a competição há apenas três anos antes, o
Leeds entrou no confronto como o grande favorito.
Mas
não funcionou desta maneira. A primeira partida foi disputada em Elland Road e
o Celtic ficou à frente no placar com um minuto de jogo, quando George Conelly
bateu o goleiro galês do Leeds, Gary Sprakle.
O
Leeds chegou a acertar a trave, mas o Celtic esteve muito bem e acabou levando
a vantagem de 1 a 0 para a segunda partida.
A
partida de volta foi jogada em Hampden Park porque o Celtic estava reformando o
Parkhead.
A
partida trouxe um novo recorde de público para uma partida europeia, um que é
provável que permaneça para sempre.
2. Entrada para o jogo que ficou conhecido como a Batalha da Bretanha (eBay) |
Mas,
incrivelmente, ainda que eles tivessem o rugido de 135.000 torcedores
contrários soando nos seus tímpanos, o Leeds assumiu a vantagem no placar e
igualou o resultado agregado assim que Billy Bremner marcou um gol maravilhoso.
Mas
a força estava com o Celtic no segundo tempo e os Hoops varreram a casa com as
imensas ondas de barulho que irromperam por todos os lados de Hampden Park.
Jimmy
Johnstone, especialmente, atormentou o Leeds. John Hughes marcou o gol de
empate em cruzamento de Bertie Auld e Sprakle se machucou ao tentar impedir o
gol.
Ele
foi substituído entre as traves por David Harvey e o seu primeiro ato foi pegar
a bola no fundo das redes após Bobby Murdoch a ter colocado, dando ao Celtic
uma vitória de 3 a 1 no placar agregado.
O
meio campista do Leeds, Peter Lorimer, disse que o Leeds United estava
fatalmente enfraquecido por uma horrenda maratona que deixou o seu time
desgastado e com alguns lesionados.
Apenas
dois dias antes da sua primeira partida com Celtic, a Football League os ordenou a
jogar uma partida pela Division One, fora de casa, contra o Derby.
Esta
ordem veio em meio a outra maratona, que aconteceu na semifinal da FA Cup,
contra o Manchester United, onde foi necessário um segundo replay para decidir
quem passaria à final.
3. Os capitães, Billy Bremner e Billy McNeill trocam cumprimentos antes do início da partida (Getty Images) |
Lorimer
disse “Nós perdemos na primeira partida, e nós a perdemos porque éramos o time mais cansado após jogar três vezes com o Manchester United. Nós fomos até o Celtic
caçando o estilo jogo que nós deveríamos estar jogando. Se nós estivéssemos
descansados, acredito que teríamos batido o Celtic em Elland Road e conseguido
a classificação. Naquela altura, as autoridades não ligaram para os atletas ou
para o clube. A atitude deles foi de simplesmente seguir adiante”.
Mas
isso não diminu em nada a vitória do Celtic – eles eram um time espetacular e
jogaram extremamente bem. Foi uma tremenda ocasião em Hampden.
"Quando
você é um cantor, um jogador de futebol ou um ator, você quer atuar nos maiores
palcos, e aquela noite no Hampden foi uma das maiores (senão a maior). O
barulho e atmosfera foram incríveis. Eu tinha jogado lá poucas vezes pela
Escócia, mas não vivi nada comparável àquela noite. 90 por cento das pessoas no
estádio eram escoceses, e isso se desenvolveu como se fosse uma grande batalha
entre a Escócia e a Inglaterra, então a paixão envolvida foi inacreditável. Eu
olho para trás agora como uma fabulosa experiência”, declarou Tommy Gemmell.
Tommy
Gemmell disse, no livro de Graham McColl, Celtic,
os anos Jock Stein: “Eu acho que nós não percebemos o quão bons éramos, eu
penso que nós nos subestimávamos algumas vezes. Os jornais ingleses inventaram
desculpas para o Leeds posteriormente, dizendo que eles estavam exaustos por
jogar tantas partidas em diversas competições em sequência. Nós disputamos mais
partidas que o Leeds naquela temporada, entretanto”.
Um
desses jogos extra, é claro, foi a final da European Cup contra o Feyenoord,
no San Siro em Milão no dia 6 de maio de 1970.
Stein
chegou entusiasmado com o estilo de jogo de ataque total contra o time
holandês. Seu esquema de jogo 4-2-4 estava dando resultados até mesmo para os
seus ousados padrões.
Gemmell
colocou o Celtic à frente no placar, mas o Feyenoord não se dobrou.
O Feyenoord
atacou de volta quase imediatamente e eles foram os melhores até os 90 minutos,
quando a prorrogação começou.
Kindvall
marcou o tento vencedor para o Feyenoord, três minutos antes de acabar o período
adicional.
Stein,
tipicamente solene na derrota, disse: “O melhor time venceu”.
Gemmell,
que também marcou para o Celtic na vitória da final sobre a Inter em de 1967,
disse: “As pessoas esqueceram totalmente do gol que eu marquei contra o
Feyenoord. Eles me perguntam sobre o gol que eu marquei na final da European Cup e eu digo ‘Qual deles?’ As pessoas só lembram dos vencedores”, ele
finaliza.
Pelo
menos o Celtic foi campeão da Bretanha, graças a sua enfática vitória contra o
Leeds.
5. Bertie Auld, um dos heróis do jogo (Getty Images) |
Ficha
técnica:
Celtic 2
(Hughes, Murdoch) Leeds 1 (Bremner)
Local: Hampden
Park
Data: 15 de
abril de 1970
Semifinal da
European Cup, partida de volta
Público: 136.505
Celtic: Williams, Hay, Gemmell, Murdoch, McNeill, Brogan, Johnstone,
Connelly, Hughes, Auld, Lennox.
Leeds: Sprake
(Harvey), Madeley, Cooper, Bremner, Charlton, Hunter, Lorimer (Bates), Clarke, Jones,
Giles, Gray.
6. Montagem de fotos de Bertie Auld (Pinterest) |
Homem da
partida: Jimmy Johnstone
Impressões:
“Este time, a
máquina de Revie supostamente era invencível e nós lhes demos uma boa lição.
Duas vezes”, Terry Gemmell, defensor do Celtic.
“Eu não me
lembro de uma outra ocasião onde tive tantos problemas. Se eu viver 100 anos,
nunca esquecerei a magia de Johnstone e de quão árdua foi a tarefa para contê-lo”, Terry Cooper, lateral esquerdo do Leeds. *
7. Trecho da matéria que foi traduzida da revista |
Suplemento
World Soccer (European Cup, temporada 1969-1970)
Nesta
temporada as regras e regulamentos foram otimizados novamente, com a total
abolição dos play-offs mesmo além das quartas de final.
A
primeira rodada viu alguns dos placares mais elevados como o Leeds fazendo 10
gols na partida em casa contra o Lyn Oslo (três de Allan Clarke), Feyenoord
marcando 12 em casa contra o KR Reykjavik (quatro de Geels, três de Kindvall) e
Real Madrid e Legia Varsóvia marcando oito contra Olympiacos do Chipre e UT
Arad da Romênia, respectivamente.
O
Feyenoord, treinado por Ernst Happel que jogou a European Cup nos seus primórdios pelo Rapid Vienna, prosseguiu eliminando o Milan na segunda
rodada e então alcançou a final via Leste da Europa – batendo primeiro o
Vorwaerts da Alemanha Oriental e depois o Legia Warsaw.
Na
final eles encontraram um time do Celtic que destroçou o Saint-Ettiene e o
Estrela Vermelha de Belgrado e enfiou três gols na Fiorentina em Parkhead.
As
vitórias do Celtic na semifinal sobre o Leeds United exigiram esforço titânico,
mas talvez elas tenham cobrado mais dos campeões escoceses do que eles
perceberam.
Tommy
Gemmell abriu a conta para o Celtic como ele tinha feito em Lisboa três anos
antes, mas o Feyenoord empatou dois minutos depois e mereceram vencer com o gol
que decidiu a partida, marcado por Ove Kindvall.
Artilheiro da
competição: Jones (Leeds), 8 gols.
*
Alex Murphy ©, Revista Total Football © (2000).
8. Página do encarte da World Soccer que trata da final disputada (e perdida na prorrogação) pelo Celtic após passar pelo Leeds United. |
Tradução: Sandro Pontes
Nenhum comentário:
Postar um comentário