Recentemente recebemos dois ingressos do Mundial de Clubes da
FIFA do ano 2000 de dois jogos do Manchester United (United versus Necaxa e United versus Vasco da Gama), acabamos por
escrever não só como foi a participação dos Red Devils no torneio, bem como
recordar alguns fatos pitorescos que rodearam a vinda do time inglês para o
Brasil e falar um pouco acerca da participação dos Red Devils na competição.
De quebra ainda traz um breve relato da história das disputas de
mundiais interclubes entre os times da América do Sul e da Europa com relação
ao seu formato ao longo do tempo.
Boa
leitura.
1. Ingresso da primeira rodada |
Manchester United e o
Mundial de Clubes do ano 2000
Basicamente há duas grandes competições de clubes no mundo: de
uma lado a European Cup/Champions League, que é disputada desde
da temporada 1955-56 e tem como maior campeão o Real Madrid que detém 13
títulos, já a sua contraparte sul-americana se chama Taça Libertadores da
América e é disputada desde 1960, sendo que o seu maior vencedor é o Club
Atlético Independiente, com sete troféus conquistados.
Antes da FIFA assumir a organização do campeonato mundial de
clubes houve duas fases: primeiramente de 1960 até 1979, onde, para se decidir
quem seria o campeão mundial eram disputadas partidas de ida e volta, ou seja,
uma no continente europeu e outra no sul-americano.
Caso houvesse empate em pontos (dois empates ou uma vitória para
cada lado) havia a necessidade de um jogo-desempate.
Mas, então, os clubes sul-americanos começaram a avacalhar com a
competição (abusar da violência), como foi o caso das finais de 1967 (Racing versus Celtic), 1968 (Estudiantes versus Manchester United) e 1969
(Estudantes versus Milan) onde os
argentinos passaram do tom e os europeus foram abrindo mão de disputar os jogos
com os seus campeões.
Esta é a razão, para quem se interessa no assunto, do Atlético
de Madri ser campeão mundial sem ter sido campeão europeu e, também pelo fato
de times como Panathinaikos, Juventus, Borússia Moenchgladbach e Malmo terem
disputado o mundial nos anos 1970s.
2. Expulsão de David Beckham no jogo contra o Necaxa (Getty Images) |
E também pelo fato do troféu não ter sido disputado em 1975 e
1978.
A segunda fase ocorreu entre os anos de 1980 e 2004 e era
composto por um jogo único, disputado em solo neutro, neste caso o Japão, e
patrocinado pela montadora de automóveis Toyota.
É nesta fase que o United ganhou do Palmeiras em 1999 em Tóquio
com gol de Roy Keane.
E o formato atual, já sob organização da FIFA, teve sua primeira
edição no ano 2000 no Brasil, depois houve um breve intervalo sem o torneio,
por conta da quebra da agência de marketing esportivo intimamente ligada à FIFA
em 2001, ISL (International Sport and Leisure) e o torneio voltou em 2005 e
continua até o presente momento com o formato de 2005.
Curiosamente é que a FIFA, posteriormente, em 2017, reconheceu
os outros times, entre 1960 e 2004 como campeões mundiais e, portanto, o ano de
2000 conta com dois campeões mundiais: o Corinthians e o Boca Juniors (que
derrotou o Real Madrid na capital japonesa).
3. Ingresso da segunda rodada |
Enfim este é todo o contexto do Mundial de Clubes, mas agora
vamos focar a nossa atenção para o primeiro deles que teve a chancela da FIFA,
ou seja, o do ano 2000.
O torneio foi composto por duas chaves divididas em duas
cidades-sede: na Chave A, cuja sede era São Paulo, ficaram os times do
Corinthians, o Real Madrid, o Al-Nassr, da Arábia Saudita, e o Raja Casablanca,
do Marrocos.
Enquanto na Chave B, com sede no Rio de Janeiro, ficaram o Vasco
da Gama, o Manchester United, o Necaxa, do México, e o South Melbourne, da
Austrália.
O time do United veio para o Brasil um tanto quanto contrariado,
pois teve que abrir mão de disputar a FA Cup (no caso defenderia o título
conquistado na maravilhosa temporada anterior, do Treble) para ajudar na
candidatura inglesa para a Copa de 2006 contra os alemães e a África do Sul
(que era favorita da FIFA, mas um voto comprado acabou levando a Copa à
Alemanha e a FIFA a estabelecer um “rodízio” entre continentes para evitar um
novo dissabor).
O presidente dos Red Devils na época, Martin Edwards, declarou
que o clube não teve alternativa a não ser aceitar a proposta e desistir da
disputa da taça mais famosa do mundo apenas naquela temporada, pois a FA
acreditava que a ida do clube inglês poderia reforçar as chances da candidatura
inglesa, uma vez que contribuiria para o sucesso do evento patrocinado pela
FIFA.
Sir Alex Ferguson chegou a criticar mais de uma vez a vinda do
United para o Brasil, seja por ter que largar a temporada europeia no meio,
seja pelo fato de ter que fazer três jogos no espaço de cinco dias e ainda sob
as temperaturas escaldantes do verão do Rio de Janeiro (enquanto na Inglaterra
era inverno).
4. Capa do jornal Lance com o destaque do confronto, na capa Solskjaer e o lateral vascaíno Felipe (Pic Click Uk)
Vencidas as polêmicas o United veio ao Brasil e abriu a Chave B, que contava com rodada dupla, em 6 de janeiro de 2000, jogando contra o Necaxa. O jogo terminou empatado em 1 a 1: Montecinos abriu o placar para os mexicanos aos 14 minutos, mas Yorke empatou o jogo aos 88 minutos, numa partida que ainda teve David Beckham expulso.
No outro jogo da noite o Vasco da Gama venceu o South Melbourne
por 2 a 0.
A segunda rodada, ocorrida dois dias depois, trouxe o grande
confronto do grupo, Manchester United versus Vasco da Gama, cuja partida
terminou com a vitória do time brasileiro por 3 a 1, tendo Romário marcado dois
gols (24 e 26 minutos, respectivamente) e Edmundo o outro aos 43 minutos
enquanto Nicky Butt fez o gol de honra do United aos 81 minutos de jogo.
A partida de fundo terminou em 3 a 1 para o Necaxa diante do
South Melbourne.
Finalmente, dia 11 de janeiro de 2000, o United, novamente abriu
a rodada da chave e, nesta partida, veio a vitória de 2 a 0 sobre o South Melbourne
com dois gols de Quinton Fortune aos 8 e aos 20 minutos.
5. Nicky Butt em ação contra o Vasco da Gama (Getty Images) |
Já a partida de fechamento do grupo mostrou uma vitória do Vasco
da Gama, sobre o Necaxa, por 2 a 1.
Encerrada a fase de grupos, o United ficou com quatro pontos, a
mesma pontuação dos mexicanos do Necaxa, mas os ingleses acabaram eliminados
pelo saldo de gols (saldo zero contra saldo de um gol favorável dos mexicanos).
Os primeiros de cada grupo avançaram à final, enquanto os
segundos disputaram o terceiro lugar no dia 14 de janeiro de 2000.
Então ficou assim: o Real Madrid disputou o terceiro lugar com o
Necaxa e perdeu nos pênaltis (1 a 1 no tempo normal e na prorrogação e 3 a 4
nos pênaltis), já Corinthians e Vasco da Gama disputaram a finalíssima e o
campeão somente foi definido na disputa de pênaltis (0 a 0 no tempo normal e na
prorrogação e 4 a 3 nos pênaltis para os corinthianos).
Enfim estes são todos os pormenores que cercaram o primeiro
Mundial de Clubes com a chancela da FIFA.
Importante observar que esta fórmula de disputa não se repetiu
mais, ficando restrita somente à edição brasileira.
E também dá para entender o estado de ânimo e as agruras pela
qual passou o United na sua aventura brasileira, que praticamente se viu
obrigado a vir ao continente sul-americano como uma espécie de “embaixador da
boa vontade” para tentar ajudar na candidatura da Inglaterra.
6. Quinton Fortune celebrando o primeiro dos seus dois gols na partida contra o South Melbourne (Getty Images) |
Autor:
Sandro Pontes
Nenhum comentário:
Postar um comentário