sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Primeiro clube britânico na Intercontinental Cup

Celtic, o primeiro clube britânico a conquistar a European Cup, atual Champions League, em decorrência do seu triunfo também teve a primazia de ser o primeiro clube do Reino Unido a disputar a Intercontinental Cup.

 

O adversário, Racing Club, da Argentina, à semelhança dos escoceses somente tem uma conquista do principal torneio continental respectivo no seu cartel.

 

Para se apurar o campeão mundial foram necessárias três partidas (uma vitória como mandante para cada um dos times), sendo a terceira e decisiva disputada em solo uruguaio, isso após certa discussão entre os dirigentes dos dois clubes, pois não se previa a necessidade de um jogo desempate originalmente.

 

Inclusive chegou a se levantar a hipótese de se conceder a posse transitória do troféu para os clubes, cada um exibindo-o seis meses nas suas respectivas salas de conquistas como, por exemplo, acontecia com a Charity Shield antigamente: em caso de empate cada time exibia a salva de prata durante seis meses em seus domínios.

 

De todo modo estas finais também entraram na história pela violência exibidas pelos times, especialmente na partida em Montevidéu.

 

Maiores detalhes abaixo.

 

Boa leitura.

 

1. Jogadores do Celtic entraram em campo com a bandeira uruguaia (The Celtic Star)

O World Club Championship (ou Intercontinental Cup) foi concebido em 1958 para colocar os campeões da Europa contra os campeões da América do Sul.

 

Um problema inicial foi que a América do Sul não tinha uma forma de apurar o seu campeão, então foi criada a Copa Libertadores da América.

 

O primeiro campeão sul-americano foi o uruguaio Peñarol e enfrentou o Real Madrid na primeira final intercontinental em 1960, com os espanhóis sagrando-se campeões ao bater os Carboneros por 5 a 1 na Espanha após o empate sem gols no Uruguai.

 

Sete anos após a primeira final entre clubes europeus e sul-americanos, pela primeira vez se contou com a participação dum time britânico, o Celtic vencedor da European Cup, enfrentou o Racing Club da Argentina, campeão da Libertadores, numa final onde os torcedores de Glasgow se sentiram num ringue de box em vez dum campo de futebol.

 

O Celtic venceu a primeira partida por 1 a 0, embora eles não tenham jogado em Hampden Park e não no seu próprio gramado.

 

A segunda partida, na argentina, começou de maneira trágica quando o goleiro Ronnie Simpson foi atingido por um rojão arremessado pela torcida e acabou caindo inconsciente, acabando sendo substituído por John Fallon.

 

O jogo terminou com a vitória dos violentos argentinos do Racing Club por 2 a 1, mas haveria a necessidade de um jogo extra para decidir o campeão, pois ainda não havia a regra do gol fora de casa para dar o título ao Celtic e a FIFA se recusou a partilhar a posse do troféu para cada clube por seis meses (como acontecia com a Charity Shield antigamente).

 

Então foi arranjada uma partida desempate três dias depois na supostamente neutra Montevidéu, no país vizinho Uruguai.

 

E o que se passou foi um dos mais horríveis acontecimentos já testemunhados num campo de futebol.

 

2. Billy Mcneill e Oscar Martín, capitães dos times, rodeados pelo trio de arbitragem, trocam cumprimentos antes do início da partida em Montevidéu (Wikimedia Commons)

A princípio Bob Kelly, presidente do Celtic, não queria disputar a partida extra, mas o treinador Jock Stein insistiu em jogar, pois tinha a crença que a sua equipe poderia ganhar o jogo.

 

O Celtic exigiu que o árbitro fosse substituído e medidas de segurança fossem reforçadas para proteger o seu time antes de concordar em disputar a partida-desempate.

 

Os jogadores do Celtic não conseguiram dormir na noite anterior ao jogo, acordados constantemente pelos cânticos da torcida dos argentinos que viajou para o território uruguaio.

 

Tão logo começou o jogo os sul-americanos começaram a executar jogadas desleais e lances ríspidos sobre os jogadores do Celtic.

 

Rodolfo Pérez Osório, o árbitro paraguaio da partida, parecia incapaz de tomar as rédeas do jogo e conter a violência do Racing.

 

Em determinado momento, lá pela metade do primeiro tempo, o árbitro chamou ambos os capitães para tentar fazer com que os dois instilassem alguma disciplina nos seus comandados. Não funcionou.

 

O Celtic sofreu 30 faltas, enquanto o Racing teve 21 infrações anotadas contra si. Seis jogadores foram expulsos – quatro do Celtic e dois do Racing – embora somente cinco deixaram o gramado.

 

Bertie Auld se recusou a deixar o gramado e o árbitro não insistiu na sua saída.

 

Francis Thébaud, jornalista do Mirroir De Football, escreveu sobre a expulsão de Jimmy Johnstone: “Johnstonne, no meio do campo, rolou a bola para Wallace e ficou livre para receber de volta. 


Martín, sem se preocupar com a bola, deu uma tesoura que atingiu quase a cintura de Johnstonne. Ambos rolaram no gramado e Johnstone tentou se levantar rapidamente e Martín rolou no chão como se tivesse sido atingido por um soco. Sem hesitar, Pérez expulsou Johnstone! 


Dessa maneira, quem tinha sido vítima constante de jogadas violentas desde o começo da partida... se tornou vítima do homem cuja missão era proteger os jogadores contra os atletas dissimulados e também os violentos. Da minha parte eu nunca vi uma decisão tão controversa”.

 

3. Uma das muitas confusões que ocorreram durante a partida (PA Images)

Juan Carlos Cárdenas marcou o único gol da partida, aos 56 minutos, que deu o título da competição ao Racing Club.

 

Até mesmo os uruguaios no público não ficaram surpresos com os seus vizinhos latino- americanos e, conforme o Racing tentava dar sua volta olímpica eles foram atingidos com qualquer coisa que os espectadores tivessem nas mãos.

 

Na Argentina o jornal La Nacion estampou na sua manchete: “O Racing retomou os dias de glória do nosso futebol!

 

Entretanto, o El Dia, do Uruguai, relatou: “Não houve futebol, foi uma desgraça... A partida foi uma farsa fraudulenta”.

 

O Celtic multou os seus jogadores em £250 pelo seu comportamento inadequado.

 

Os argentinos, apesar da sua terrível conduta, foram premiados, cada um, com o equivalente a £2.000 e um carro novo.

 

Agustin Mario Cejas, goleiro do Racing na decisão, em dezembro de 1979, deu uma entrevista onde expressou os seus sentimentos acerca daquela noite:

 

Foi uma partida absolutamente normal para nós. Eu desempenhei um papel “pacífico” na partida. Eu não precisei bater em ninguém, simplesmente deveria ser goleiro. Mas, de repente, Basile realmente bateu forte no ruivo Johnstone, através de uma falta violentíssima, uma das mais violentas que já vi em minha carreira. E o árbitro expulsou Basile.

 

Com o lance parado e uma intensa discussão entre os jogadores, eu saí caminhando calmamente da minha meta, com as mãos por trás das costas e me dirigi muito lentamente para próximo de Johnstone. Ele ainda estava no gramado quando cheguei ao seu lado, então eu o chutei tão forte quanto o meu colega de time expulso havia feito”.

 

4. Time do Racing com o troféu intercontinental na sua volta à Argentina (Wikiwand)

Ficha técnica da partida final de desempate:

 

Racing 1 (Juan Carlos Cárdenas) Celtic 0

 

Expulsões: Juan Carlos Rulli e Alfio Basile (Racing); Jimmy Johnstone, Bobby Lennox, Bertie Auld e John Hughes (Celtic).

 

Intercontinental Cup

Local: Estádio Centenário, Montevidéu

Data: 4 de novembro de 1967

Público: 65.172

 

Racing: Agustín Cejas, Roberto Perfumo, Nelson Chabay, Oscar Martín (capitão), Juan Carlos Rulli, Alfio Basile, Norberto Raffo, João Cardoso, Juan Carlos Cárdenas, Juan José Rodríguez, Humberto Maschio.

 

Celtic: John Fallon, Jim Craig, Tommy Gemmell, Bobby Murdoch, Billy McNeill (capitão), John Clark, Jimmy Johnstone, Bobby Lennox, Willie Wallace, Bertie Auld, John Hughes. *

 

* Firsts, Lasts and Onlys - Paul Donnelley ©.

 

5. Montagem com jogadores do Racing e do Celtic com luvas de boxe (Blog Here We Go...)

Tradução: Sandro Pontes

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