terça-feira, 23 de julho de 2019

Fulham – A trajetória na FA Cup 1975

A FA Cup de 1975 foi decidida pelos times londrinos Fulham e West Ham, tendo o West Ham se sagrado campeão.

Então vamos relembrar a decisão da FA Cup sob dois pontos de vista: dos perdedores e dos vencedores.

Num primeiro momento será abordada a campanha do vice-campeão Fulham, e as curiosidades que permearam a caminhada até a finalíssima.

Boa leitura.

1. Bobby Moore e Alan Mullery foram fundamentais na campanha que levou à final da FA Cup de 1975 (Getty Images)

FA Cup 1975 – Muito próximos da glória

A trajetória na FA Cup de 1975 começou suavemente demais com um empate em 1 a 1 com o Hull City em casa.

Alan Mullery expressou irritação pelo fato dos Whites não terem ganho um jogo que eles haviam dominado: “Nós fizemos o suficiente nos 30 primeiros minutos para liquidar a partida”. Jimmy Conway marcou para os Cottagers, Ken Wagstaff empatou para o Hull.

O Fulham quase dominou a partida totalmente no replay, também. Após controlar a partida nos 25 primeiros minutos, o Fulham poderia facilmente ter marcado quatro gols neste período, mas o placar permaneceu inalterado no primeiro tempo.

Mas então, aos 64 minutos, Viv Busby, finalmente rompeu o bloqueio ao marcar para o Fulham, mas Peter Fletcher, do Hull, interceptou um recuo de bola mal feito por Les Strong, logo depois, e igualou o placar.

Um gol de Stuart Croft colocou o Hull à frente do placar na prorrogação, mas Busby marcou outro gol no último minuto do tempo extra para forçar um segundo replay.

O segundo replay teve lugar num campo neutro, em Filbert Street, Leicester. Menos de 5.000 espectadores (dos dois times somados) encararam a viagem até Leicester, mas um dos homens que assistiu ao jogo foi Brian Clough, cujo time que ele dirigia, o Nottingham Forest, estava esperando o vencedor do confronto para a quarta fase da competição.

O jogo foi resolvido com um único gol: o cruzamento à meia altura de Busby não encontrou nenhum jogador do Fulham até bater no joelho do lateral direito do Hull e ir contra às próprias redes.  

O confronto da quarta fase foi muito duro. O Forest jogou o que Clough descreveu como sendo “O melhor futebol nesta partida do que em qualquer outro jogo desde que eu assumi o time”, e o treinador do Fulham, Bill Taylor, concordou “esta foi a pior partida que jogamos nesta temporada e não seria justo atribuir este fato à condição do gramado”, ele disse (o gramado precisou de oito horas de trabalho intenso para se tornar minimamente apto ao jogo). “Nossos homens de frente não conseguiram dar um chute decente ao gol e certamente ninguém está contente com isso”.

2. Alec Stock, em primeiro plano, o cérebro por trás de uma brilhante campanha, em fotografia de 25 de abril de 1975 (Getty Images)

Les Barrett acertou a trave num chute após correr com a bola por mais de 50 metros sem os adversários conseguirem lhe tirar a bola e Viv Busby cabeceou uma bola para fora, as chances do Fulham se resumiram a isso e o jogo terminou empatado sem gols.

O replay no City Ground também terminou empatado em 1 a 1 (John Dowie marcou), então os times estavam de volta ao Craven Cottage para outros 120 minutos de futebol disputado.

Brian Clough sugeriu que “Se nenhum dos times ganhar na segunda-feira, nós devemos perfilar os jogadores das duas equipes contra uma parede e fuzilar todos!”

Novamente o Fulham foi o melhor time e acertou a trave duas vezes. Les Barrett, principalmente, esteve próximo de encerrar a série faltando cinco minutos para acabar a prorrogação, mas John Middleton, o goleiro do Forest, fez uma defesa milagrosa na forte cabeçada de Barrett e conseguiu evitar a eliminação do Nottingham em Cottage.

Mas até chegar ao tempo extra muita coisa aconteceu antes. O Fulham marcou cedo quando Jimmy Conway cruzou a bola na direção de Alan Slough que desferiu um forte chute a 15 metros de distância da meta do Forest e venceu o goleiro.

O Forest empatou numa cobrança de falta, mas rapidamente o Fulham retomou o controle do jogo. Barrett fez uma bonita jogada ao driblar dois adversários, mas chutou pra fora.

O mesmo Barrett acertou a trave momentos depois em chute rasteiro. A prorrogação viu mais do mesmo, mas o Fulham não conseguiu marcar. “Este confronto se tornou um trabalho árduo agora e nós estamos lidando com jogadores muito cansados”, disse Alec Stock. “Nós jogamos tantas vezes uns com os outros que agora somos como amigos, não adversários”.

A maratona finalmente acabou após o terceiro replay. Uma bela trama envolvendo Moore e Conway deixou Busby em bela posição para fazer 1 a 0.

3. Da esquerda para a direita: John Mitchell, Bobby Moore, Alan Mullery e Viv Busby em foto dos anos 1970s (Getty images)

Então, no segundo tempo, um lançamento de 35 metros de Alan Mullery colocou Busby novamente na cara do gol, ele driblou o goleiro e marcou o seu segundo gol.

O Forest marcou um gol de consolação aos 61 minutos, mas depois disso o Fulham se postou bem em campo para suportar a pressão exercida pelo Forest até o apito final e garantir a sua passagem para outra fase do torneio.

“Finalmente a justiça foi feita”, disse Alan Mullery. “Nós jogamos seis vezes com o Forest nos últimos dois meses e os pressionamos em cinco jogos sem conseguir ser plenamente bem-sucedidos. Nós temos um time muito jovem e todos estão excitados em poder jogar contra o líder da First Division (o Everton que estava aguardando o desfecho do confronto). Mas também é uma sensação maravilhosa para velhos como Bobby Moore e eu mesmo”.

Ambos jogadores jogaram partidas excepcionais. Brian Clough concordou: “Nos faltou um pouco mais de habilidade, não foi mesmo? Apesar de toda a pressão aplicada, nós não criamos nada de especial para reverter a situação”.

Busby estava impossível novamente, na próxima fase, contra o ambicioso Everton, marcando duas vezes para colocar o Fulham na fase de quartas de final.

Seu primeiro gol veio após Dai Davies, o goleiro do Everton, colidiu com um dos seus defensores aos 16 minutos e a bola sobrou limpa para ele e, enquanto Roger Kenyon igualou o placar no começo da segunda etapa, Busby marcou um pouco mais tarde para dar números finais ao jogo e ao destino da vaga para a próxima fase.

“Nós batemos o Everton que está no topo da tabela da First Division e agora estamos nas quartas de final, então temos uma chance real de chegar até a grande final”, Busby diria um pouco depois.

Ele não estava tão empolgado, contudo, com o sorteio para esta fase, contra o Carlisle fora de casa. “Não teria sido tão ruim se o sorteio tivesse nos posto para decidir contra o Carlisle em casa. Não que não estivéssemos confiantes. Quando você ganha do Everton por que teria medo de ir até Carlisle?”, Busby questionaria.

4. Les Barrett, com a bola dominada, em ação contra o Portsmouth num jogo de Second Divison na temporada 1974-75 (Colorsport)

A vitória sobre o Carlisle foi (naquele momento) a mais orgulhosa passagem do treinador Alec Stock no futebol. “Eu comi o pão que o diabo amassou várias vezes dentro do futebol, mas nunca desisti. Em 58 anos eu já não imaginava que isto poderia acontecer comigo. Estou flutuando de alegria. Eu voltei a este clube para recolocá-lo nos trilhos. Após o apito final eu pensei que finalmente estávamos no caminho certo para conquistar alguma coisa”.

De todo modo foi um jogo duro. O Fulham marcou aos 67 minutos através de Les Barrett, o único chute no gol na partida, mas o Carlisle pressionou o resto do jogo.

Peter Mellor fez o seu melhor no gol e Moore e Mullery, como eles estiveram em todas as partidas da campanha da copa, foram magníficos.

Quando Jimmy Conway desabou com uma lesão na cabeça, Stock foi ver como ele estava: “Quando eu disse para ele que não estava muito bem, ele simplesmente disse - ‘Relaxe, está tudo bem e sob controle. Não tem nada com o que se preocupar’. - Que homem!”, declarou Jimmy.

Moore estava extasiado após o apito final. “Foi um momento mágico! Eu nunca sonhei que isto pudesse acontecer comigo novamente. Eu pensava que eventos como este já pertenciam ao passado”.

Mullery estava aliviado. “Eu sou o primeiro a admitir que a espera pelo apito final foi terrível. Eu achava que este nunca chegaria”.

Nas semifinais o Fulham empatou com o Birmingham em 1 a 1, com o belíssimo gol de John Mitchell perdendo o seu efeito pelo gol desajeitado de Joe Gallagher, que igualou o placar.

O assistente Billy Taylor descreveu a cena como segue: “A bola resvalou na cabeça de Alan Moore, caiu na direção das pernas de John Lacy, Alan Slough não conseguiu manda-la pra longe e Gallagher acabou empurrando-a para as redes.”

5. times entrando em campo para a grande decisão (Site Fulham)

O treinador do Birmingham, Freddie Goldwin, queixou-se que esta foi a pior partida que o seu time jogou em toda temporada, o que incomodou Alan Mullery: “É engraçado! Você joga com times da First Division e eles não jogam tão bem contra você, e então eles alegam que estavam num dia de folga. Eles não admitem que o Fulham jogou bem. Se nós formos pra Wembley não iremos estragar o lugar”.

No replay, Alan Mullery estava ainda mais otimista. “Eu não nos vejo perdendo. Nós iremos para Wembley. Eu fico incomodado quando leio que o Birmingham não poderia jogar tão mal novamente. Por que não poderiam? Para ser honesto eu não vejo ninguém no time do Birmingham capaz de melhorar a performance deles”.

Outra maratona de 120 minutos se seguiu. Faltando 10 segundos para se encerrar o tempo extra John Mitchell acertou um chute no alvo, mas o goleiro espalmou pra frente mas ele foi rápido e mandou o rebote para dentro do gol do City.

No vestiário Alan Mullery subiu na mesa e levantou um brinde. Apontando na direção de Moore ele disse: “Muito obrigado por levar dois homens velhos a Wembley novamente!”

A tarde final da preparação do Fulham para a decisão foi desperdiçada por uma visita inesperada: um representante da Stylo Matchmakers, uma fabricante de chuteiras baseada em Leeds, entrou no refeitório trazendo novos pares para todos os presentes.

Os jogadores então entenderam que Alec Stock tinha assinado um contrato no início da temporada e se os jogadores não concordassem em usar as chuteiras Stylo na final, esta seria cancelada porque havia uma ordem judicial restringindo o uso de outras chuteiras que não fossem as da Stylo.

O assistente Bill Taylor disse que “O representante da Stylo falou para mim e a todos os outros jogadores, exceto Bobby Moore, que iríamos usar as chuteiras deles. Moore não havia assinado nenhum contrato.”

6. Alan Taylor, camisa 9, marcando o segundo gol dos Hammers na partida Getty Images)

Após uma má noite de sono, os jogadores se reuniram pela manhã e enviaram Les Strong, que estava machucado, para uma sessão de conciliação às 10:30. 

Ele voltou e relatou que a final aconteceria, mas os jogadores teriam que usar as chuteiras como estava previsto em contrato.

Compreensivelmente os jogadores não fizeram aquilo, então tiveram que pintar as listras das suas chuteiras preferidas para deixar todo mundo feliz – admitamos que não é a melhor preparação que um time pode ter para uma decisão deste porte.

Na decisão, propriamente dita, o Fulham não esteve no seu melhor. Peter Mellor foi excepcional, especialmente na partida contra ao Carlisle, quando ele praticamente garantiu sozinho a passagem dos Cottagers para outra fase, mas falhou duas vezes em Wembley e o Fulham perdeu por 2 a 0.

Duas vezes ele falhou na saída de bola e duas vezes Alan Taylor se aproveitou destas falhas para marcar.

Se estas falhas não tivessem acontecido, talvez o resultado pudesse ter sido outro. O Fulham havia dado tudo de si para chegar à final, mas esta derrota acabou sendo um anticlímax da brilhante campanha.

* When Football Was Football: Fulham, a nostalgic look at a century of the club - Richard Allen ©.

7. Billy Bonds, à esquerda, e Graham Paddon consolam Bobby Moore após o apito final (Getty Images)

Tradução: Sandro Pontes 

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