Hora de conhecer a história da decisão da League Cup de 1984, que
mobilizou toda a Liverpool em torno dos seus dois times, mas também contra o
Tatcherismo.
O texto, extraído do livro I don’t know what it is, but I love it –
Liverpool’s unforgettable 83-84 season, traz todas as nuances e o contexto
histórico que cercou a partida e começa, para contextualizar na linha do tempo,
logo após o Liverpool eliminar o Benfica nas quartas de final da Copa dos
Campeões da Europa.
Apenas alguns breves esclarecimentos antes de liberar vocês para a
leitura, como têm leitores de todas a idades aqui, muito provavelmente nem
todos terão inteiro conhecimento sobre alguns personagens e expressões citados
ao longo da matéria:
Cortina de Ferro: após a Segunda Guerra
Mundial o mundo, grosso modo, ficou dividido entre capitalismo e comunismo.
Os países que eram alinhados à União Soviética (hoje basicamente a
Rússia), na sua maioria situados no Leste Europeu, ficaram conhecidos como os
países da Cortina de Ferro, ou seja, era a divisão entre a Europa Ocidental
(países alinhados aos Estados Unidos) e Europa Oriental (países sob a
influência soviética);
Margaret Tatcher: foi a Primeira Ministra
do Reino Unido durante 11 anos (1979-1990), também conhecida como “A Dama de
Ferro”, foi responsável por diversas inovações de cunho liberal naquele país
durante a sua longa gestão;
Whitehall: é a administração pública
britânica, portanto não se deve confundir com a Whitehall norte-americana ou
simplesmente a Casa Branca (aqui no Brasil, muitas vezes para nos referirmos à
gestão pública federal, nos referimos ao Planalto, lá acontece o mesmo);
Partido Trabalhista: é um partido
social-democrata de matiz centro-esquerdista no Reino Unido.
Town Hall: é um importante edifício
da cidade de Liverpool.
A “profecia” de Alan Kennedy, na última frase do texto, se refere ao
patrocínio da cerveja dinamarquesa Carlsberg que viria à patrocinar os Reds
anos mais tarde.
Feitos estes esclarecimentos é hora de passar à narrativa.
Boa leitura.
1. Capa do programa oficial da primeira final (Pinterest) |
League Cup 1984, a improvável união de uma cidade
Mal houve tempo para tomar fôlego: Lisboa na
quarta-feira, casa na quinta-feira, o sorteio do adversário da semifinal da
Copa dos Campeões da Europa na sexta-feira, viagem para o Sul no sábado e,
então, uma final em Wembley no domingo.
Os outros
três times no pote para as semifinais continentais do torneio mais famoso da
Europa eram Roma, Dínamo Bucareste e Dundee United.
A opção menos
atrativa seria uma viagem até a Romênia. Nas quatro temporadas anteriores o
Liverpool tinha perdido três vezes para times da Cortina de Ferro. Dínamo
Tbilisi, CSKA Sofia e Widzew Lódz, todos estes eliminaram o time de Merseyside
da competição.
É claro que o
Bucareste foi sorteado para jogar contra o Liverpool, com a primeira partida
marcada para acontecer em Anfield. Pelo menos desta vez o adversário não era
completamente desconhecido.
O time de
Fagan os havia batido por 3 a 2 sete meses atrás na Espanha, mas não havia
tempo para refletir sobre a aventura estrangeira, pois uma dificuldade local
havia surgido.
O Everton
estava sentindo um crescente otimismo sobre suas expectativas. “Nós estamos
diminuindo a lacuna para eles o tempo todo,” Howard Kendall, o ex-jogador que
retornou a Goodison Park como treinador em 1981, disse. “Acho que podemos
desafiá-los. Parece que estamos ficando mais fortes, enquanto eles estão
ficando mais fracos.”
2. Bruce Grobbelaar fotografado ao lado de uma peça de marketing do patrocinador da competição (Bob Thomas/Getty Images) |
Uma das
principais razões para o renascimento do Everton foi a chegada de Andy Gray,
oriundo do Wolverhampton Wanderers, no começo da temporada, mas o robusto
centroavante não pôde jogar as finais, pois já tinha disputado pelo seu clube
anterior em outra fase da competição.
O forte
atacante seria o tipo de jogador que colocaria pressão sobre Alan Hansen e Mark
Lawrenson e cuja presença na área testaria a tomada de decisões de Bruce
Grobbelaar quando saísse para interceptar os cruzamentos.
Kendall ainda
estava otimista. Perguntado sobre a sua mensagem de pré-jogo para o time, ele
disse: “O primeiro toque pode fazer um jogador crescer ou sumir em Wembley.
Então estou dizendo que nós não devemos ter muito respeito pelo Liverpool. Se
espera que eles vençam, mas esta é só uma partida e nós jogamos muito bem em
nosso último encontro.”
O treinador
do Everton também mandou uma mensagem para os fãs. “Eu acho que os nossos
jogadores querem agradecer aos nossos torcedores mais do que os do Liverpool
querem agradecer aos deles”, ele disse.
A atmosfera
ao redor da cidade não poderia estar mais frenética.
Tudo parou
pelo futebol. A final da League Cup levantou um grande problema para a Câmara Municipal,
que já tinha bastante coisa para se preocupar.
Nas eleições
locais de maio de 1983, o Partido Trabalhista ganhou as eleições e passou a
controlar a cidade. O resultado foi muito contra as tendências políticas no
Reino Unido.
A plataforma
Trabalhista continha o compromisso de manter empregos e construir novas casas,
apesar da política de Whitehall exigir grandes cortes em orçamentos regionais.
Os
Trabalhistas tiveram uma vitória esmagadora e os Conselheiros (aqui no Brasil
seria o equivalente a vereadores) estavam em rota de franca colisão com o
regime de Tatchter.
3. Howard Kendall e Joe Fagan – esquerda para direita - liderando os seus times para o primeiro jogo entre eles numa final em Wembley (PA Images) |
Na primavera
de 1984 se tornou claro que a Câmara de Vereadores estava determinada a cumprir
suas promessas eleitorais. Para fazer isso, eles teriam que gastar mais do que
o aprovado no orçamento e, portanto, infringir a lei.
A equipe
trabalhista alegou que muito dinheiro governamental havia sido retirado de
Liverpool nos três últimos anos. Ambos os lados se entrincheiraram em suas
posições, e o Guardian relatou que “o ar está pesado com conversas de rebelião,
até mesmo revolução.” E então o futebol interrompeu a discussão.
O encontro
crucial para discutir o orçamento foi marcado para 29 de março, acompanhado de
uma imensa greve na cidade. Isto aconteceu quatro dias antes da final da League
Cup.
Os políticos
da cidade estavam envolvidos em longas e exaustivas conversas para evitar a
crise, quando um problema ainda maior pairou sobre suas cabeças e desviou o
foco do colapso fiscal. Negociações foram encerradas e coisas mais importantes
atendidas.
“Foi a
primeira vez que os dois clubes jogaram um contra o outro em Wembley e o plano
de ambos os times era desfilar em ônibus aberto posteriormente”, disse Derek
Hatton. Hatton, um torcedor do Everton, era o líder da câmara de vereadores, a
face mais visível e um dos inimigos públicos do Tatcherismo.
Em Merseyside
ele era um dos muitos com obsessão dupla. “Futebol e política estava em todos
os lugares naquele tempo”, ele disse. Em todo pub havia um expert que poderia
solucionar o problema das finanças da cidade e outros que podiam deixar os
clubes de futebol em forma.” O axioma falacioso de Shankly de que o esporte era
uma questão mais importante do que questões de vida ou morte. Não é, mas
certamente superou a política.
“Nós
estávamos tendo imensas batalhas pela aprovação do orçamento e Londres estava
ameaçando suspender a Câmara Municipal e mandar um interventor, e a imprensa
estava gritando por sangue”, Hatton continuou. “Então nós tínhamos uma crise
real. A questão era: quem deveria vir na frente no desfile de ônibus aberto?”
“Nós pensamos
que os vencedores poderiam ir no ônibus da frente e os perdedores viriam atrás.
Então Howard Kendall disse para mim: “Se vocês pensam que vamos ficar atrás
destes vermelhos bastardos se perdermos, vão se foder!” Ele não estava
arredando o pé um centímetro sequer!”
4. Os times de Merseyside posando juntos para a foto
da competição em Wembley (Getty Images)
|
“Então agora
nós tínhamos que convencer os torcedores do Liverpool na Câmara a usar sua
influência em Anfield para eles não transformarem este exagero num sério
incidente diplomático. Em meio à batalha pelo orçamento com a sua enorme turbulência
econômica, o item mais importante da agenda era o futebol. Você não iria querer
subestimar o poder do jogo.”
Uma olhada
aos arredores da cidade confirmava o ponto de vista de Hatton. Casas em todos
os lugares decoradas com bandeiras vermelhas ou azuis. Famílias divididas, e
havia muitas, que tinham ambas bandeiras.
Uma recepção
em Town Hall para celebrar a ocasião resumiu a situação. Hugh Dalton, o
presidente da Câmara de Vereadores, disse: “Estamos enfrentando muitas
dificuldades, especialmente sobre o desemprego; então é um grande prazer ser
capaz de prestar um tributo ao prestígio e a honra que os nossos clubes nos
trouxeram”. Um compromisso foi alcançado. Os times deveriam se misturar nos
ônibus de regresso.
Negociações
com o governo não estão destinadas a se resolverem tão facilmente.
Lealdades
futebolísticas reconhecidamente dividiram famílias em Merseyside, mas o outro
lado da equação é que isso uniu os fãs. Os trens e ônibus indo para o Sul
naquele último sábado de março não eram vermelhos ou azuis, mas uma mistura.
Eles deixaram
uma cidade vazia atrás deles e aqueles que permaneceram ficaram se lamentando
por não terem ido ao Sul testemunhar o evento histórico. Eles invadiram
Londres, entrelaçados e entremeados. Segregação não era a questão.
Junto com o
orgulho, os milhares de Scousers trouxeram os seus ideais políticos para o Sul.
Nos trens, jovens distribuíam distintivos, em vermelho ou azul, com os dizeres
“Eu apoio a Câmara Municipal de Liverpool.”
Chapéus para
esquiar eram a moda naqueles dias e quase todos estavam enfeitados com esses
adesivos e cânticos de “Merseyside” eram intercalados com “Derek Hatton, nós o
apoiaremos cada vez mais” e “Maggie, Maggie, Maggie! Fora, fora, fora!”
5. John Bailey e
Alan Kennedy fotografados juntos após o apito final em Wembley (Getty
Images)
|
Enquanto os
fãs bebiam na West End vazia e cantavam as suas canções por muito tempo na
noite, os jogadores do Liverpool estavam em suas camas dormindo no West Lodge
Park Hotel em Hertfordshire.
Então o
espírito de camaradagem foi testado. “Lá pelas quatro e meia da manhã eu fui
acordado por alguém cantando “Everton, Everton, Everton”, Souness disse.
“Muitos dos outros rapazes já estavam acordados e Alan Kennedy perseguiu o
culpado até o elevador.”
O intruso
teve sorte que era Kennedy. A falta de ritmo do lateral esquerdo falou alto
novamente. Pelo menos esta foi a piada na mesa do café da manhã. Foi um grupo
descontraído que se dirigiu a Wembley para o Derby mais esperado da história.
Estava chovendo
e isto se ajustava melhor ao jogo do Everton. Tempo firme e gramado perfeito,
eles acreditavam, combinava melhor com o estilo do Liverpool. “Eu analisei
todas as finais de copas em Wembley e pensei que esta seria absolutamente
quente”, disse Neville Southall. “Mas começou a chover bastante e eu fiquei
feliz com aquilo”.
No frio e no
molhado, o Everton se lançou ao ataque cedo e o momento decisivo do jogo veio
logo aos seis minutos. Graeme Sharp, invariavelmente bem-sucedido no alto
contra a defesa do Liverpool, cabeceou a bola para Adrian Heath e o pequeno
atacante teve uma oportunidade contra Grobbelaar.
Heath quase
caído na entrada da área conseguiu chutar a bola à meia altura para vencer o
goleiro que saía para abafar a jogada, mas Alan Hansen, que corria por fora,
conseguiu impedir o gol interceptando a bola já próxima à linha do gol.
A
interceptação da jogada pareceu envolver muito do joelho e até um pouco de mão.
O estádio inteiro pensou que havia sido pênalti. Mas Alan Robinson, o árbitro,
acenou para o jogo continuar.
Sete anos
antes, o Everton perdeu uma semifinal de FA Cup quando o ábitro Clive Thomas
invalidou um gol no fim do jogo de Bryan Hamilton em Maine Road que os teria
dado a vitória de 3 a 2 sobre os seus vizinhos. Thomas se tornou uma mítica figura
de ódio nas lendas do Everton. Agora Robinson se juntou a ele na lista negra de
juízes odiados em Goodison.
6. Capa do programa oficial do replay (Pinterest) |
Alan Hansen
está inflexível de que não foi pênalti. “Nunca que isso foi um pênalti”, ele
disse. “A bola ricocheteou no meu joelho e embora tenha pegado na minha mão,
nunca foi intencional.”
Kendall, como
a maioria no campo e a audiência televisiva, viu de maneira diferente. “Está
claro que foi mão na bola. Quem sabe? Se nós tivéssemos saído com um gol na
frente, poderíamos ter ganho a partida.”
De todo modo
a partida definhou num empate de 0 a 0 e em meio a recriminações sobre a fraca
performance do Liverpool na partida. “Nós conseguimos o que planejamos até o
intervalo” Souness disse. “Joe disse que parecia que somente dois ou três de
nós queria jogar.”
Craig
Johnston foi um dos que queria jogar e quando ele viu que seria substituído por
Michael Robinson no intervalo antes da prorrogação, a frustração que sempre
tinha ameaçado explodir há seis dias desde a contratação de John Wark
finalmente veio à tona.
“Agora é a
sua chance de colocar o Warky pra jogar”, ele disse, irônico, a Fagan. Wark
estava impedido de jogar esta partida por já haver participado da competição
pelo seu time anterior, mas estava apto para as partidas da Liga. Esta
insubordinação foi demais para o treinador do Liverpool.
Smookin’ Joe
explodiu: “Você pensa que o jogo gira em torno de você, filho?”, ele perguntou
“Prossiga, caia fora! Agora!”
“Eu estava
suplicando para Joe não me tirar da partida”, Johnston disse. “Eu estava em
melhor forma física que qualquer um. Quanto mais jogássemos mais chances
teríamos. Eu não conseguia entender aquela lógica!”
A explosão
foi parte de uma questão mais ampla que Johnston lutou constantemente. “Eu não
era naturalmente o mais talentoso, então eu sentia que tinha que me impor em
cada partida que jogasse”, ele disse. “É como se fosse sempre o meu último
jogo. Isto me deixou mais nervoso e instável que o resto do time”.
7. Ingresso da partida em Maine Road (Site LFC History) |
Esta foi a
última nota amarga daquela tarde. Ambos os times tinham alguma coisa a levar do
empate – o Liverpool teve dois gols invalidados para combater as alegações do pênalti
do Everton – e os jogadores e torcedores se juntaram para expressar uma rara
unidade no jogo.
John Bailey,
um dos três Scousers no time do Everton, considerou o resultado emocionante.
“Eu me lembro de correr ao lado de Alan Kennedy”, ele disse. “Nós amarramos os
nossos cachecóis, azul e vermelho, juntos. Isto ainda me dá um nó na garganta!”
Esta foi uma
resposta muito diferente ao costumeiro jeito do Liverpool. Normalmente, após um
desapontador empate o time manteria comportamento discreto e não arriscaria a
despertar a ira no Bootroom por confraternizar com o adversário e comemorar ao
redor do gramado. O sentimento de unidade pegou a todos, contudo.
“Aquele dia
foi diferente”, disse Kenny Dalglish. “Foi especial. O jogo pode não ter sido,
mas a atmosfera e os fãs estavam diferentes. Foi uma celebração para a cidade.
Nós estávamos prontos para jogar um contra o outro novamente no replay. Mas aquele
momento foi algo especial. Num momento em que todos viam os torcedores como
hooligans ou como animais violentos que não poderiam se misturar, o mundo podia
ver que isto poderia ser diferente.”
Bailey
concorda: “De correr em volta do estádio e ver todos juntos, todos em cores
diferentes, minha família em cores diferentes, estranhos de todo o país,
torcedores diferentes, grupos juntos, sorrindo, vivendo tempos felizes. Você
sai e pensa: “É assim que todo jogo deveria ser. Por que tem que ser segregado?
Por que não misturar?” Eu desejo que pudéssemos ter um grande estádio. Nós
poderíamos enchê-lo com 200.000 Merseysiders.
Até Fagan
estava memoravelmente fleumático. “É claro que eu teria preferido ganhar a
partida, mas, no fim, quando eu olhei ao redor e escutei os fãs cantando
“Merseyside! Merseyside!”, eu pensei “Pelo menos todos eles voltarão felizes
para casa.”
Em última
análise, o treinador culpou o esforço do meio da semana. “Nós não jogamos
particularmente bem, sem brilho, sem gana, metódicos demais nos pensamentos e
ações. Parece que ainda tínhamos o Benfica à mente. Nós tentamos jogar da mesma
maneira que jogamos lá, como um jogo de damas. Mas não existe outra maneira de
se fazer no futebol inglês. Nós estivemos desligados e isso poderia ter nos custado
o jogo. O futebol inglês gira em torno da paixão e do orgulho e nós não
mostramos nada disso no primeiro tempo”.
O Guardian
concordou com a análise de Fagan. “O Liverpool aproveitará a oportunidade de
uma segunda chance porque o Everton não teve forças para liquidar a partida”.
8. Capa do caderno especial da revista Shoot sobre o replay da League Cup (Pinterest) |
Pelo menos
houve um vencedor naquele domingo. Ian Rush ganhou o prêmio de Jogador do Ano
da Associação Profissional de Jogadores, uma honra que Dalglish havia recebido
na temporada anterior.
Esta longa
campanha da League Cup já tinha doze jogos e havia passado por Wembley. Agora
ela se moveria para Maine Road para o replay. Ainda haveria muito trabalho e o
prêmio de £64.000 pela conquista do troféu estava em disputa. Este seria outro
jogo de meio de semana e significava que o time não teria descanso.
Dois derbies já
são muito desgastantes para uma temporada, o que se diria de quatro, então!? E
com a esperada temperatura em Manchester ser mais sombria que em Wembley e o
campo do City estar desgastado e pantanoso após um longo inverno, esta era uma
briga de cachorro que o Liverpool poderia ter evitado.
Na
quarta-feira toda a emoção de um Merseyside unido tinha ido embora. Tudo se
resumia numa partida para ser vencida. Fagan, que nunca foi de guardar
ressentimento quando se havia uma partida em disputa, selecionou o mesmo time
que começou o jogo em Wembley, inclusive Johnston.
Poderia ter
sido fácil substituir o australiano por Steve Nicol, mas o treinador estava
somente preocupado em escolher o time certo.
Para o jovem
Nicol foi desapontador perder a final, mas o escocês tinha entrado no passo do
Liverpool de uma maneira que Johnston não havia conseguido. “Ainda era um
estágio de afirmação própria,” ele disse. “Eu apenas aceitei a decisão de Joe.
Eu não queria ser considerado um esquentadinho. Se você o fosse, poderia ser
eliminado. Isto não precisaria ser levado adiante”.
A atitude “pés
no chão” dele iria conservá-lo em um bom lugar. Mas, por agora, ele veria o
jogo das arquibancadas como o mais feroz dos derbies que teve lugar no barrento
Maine Road.
“O replay
realmente foi duro”, Alan Kennedy disse. “Ele foi jogado numa noite sombria. Ela
foi feita para o estilo deles, tanto que tiveram as melhores chances”.
9. Graeme Souness, braços erguidos, comemorando o gol
que deu o título aos Reds (Getty Images)
|
Souness levou
ao grupo os comentários de Fagan após o primeiro jogo. Não haveria mesquinharia
numa noite do Norte e o capitão combateu força com força. Após 21 minutos ele
recebeu bola de Dalglish pelo meio, próximo a área, girou em cima do seu
marcador e bateu forte com o pé esquerdo uma bola que venceu Southall. O
Liverpool tinha a liderança da partida e, naquele momento de certa forma, o
título estava bem encaminhado.
“Pareceu como
se tivéssemos quebrado a resistência deles durante algum tempo”, disse Kennedy.
O intervalo deu
aos times a chance de se reagrupar. No vestiário vermelho, Souness mostrou o seu
melhor. “Ele costumava ir a cada
jogador,” disse Rush, “punhos cerrados, nos guiando, dizendo para nós que o
jogo estava lá para ser vencido. Ele bombava adrenalina em você. Nós
costumávamos sair do vestiário pensando que não perderíamos para ninguém.
Aquela era a psicologia de Souness.”
Do outro lado
do corredor, o treinador do Everton estava usando os seus próprios jogos
mentais. “Você sabia o que o Kendall estaria falando para eles,” Kennedy disse.
Ele estava dizendo: “Entrem forte nos bastardos! Eles não gostam disso! Deixem
a batalha mais dura! Transforme-nos em sucata!” O clima parecia o de um pub
naquele segundo tempo”, completou o jogador.
Daí em diante
se tornou um jogo mais duro ainda. Foi a sobrevivência do mais forte. O gol de
Sounness – e sua performance – foi a diferença entre os dois times.
“Muitas
pessoas pensaram que podiam ser ásperos conosco,” disse Hansen. “Mas nós
podíamos lidar com o melhor que eles poderiam oferecer. Realmente foi sangue e luta”.
Fagan estava
estático ao ganhar o seu primeiro troféu. “Bem, os rapazes fizeram isto”, ele
escreveu em seu diário. “E fizeram muito bem feito. O homem da partida marcou o
gol e vão falar que ele não jogou bem? Mas não vamos tirar nada dos outros dez
– cada um mereceu sua medalha pelo seu comprometimento e atitude”.
Houve certo
alívio no vestiário, também. “Nós provavelmente não merecemos vencer,
realmente,” disse Kennedy. “Todos nós dissemos mais tarde, “diabos!” Nós fomos
sortudos ali! “Nós ficamos felizes com o resultado, não com a performance.”
10. Ian Rush, Alan Hansen e Bruce Grobbelaar celebrando a vitória que deu o título da competição na segunda partida, tomando leite - Milk Cup (Getty Images) |
Ganhar a
League Cup causou um grande impacto no treinador. Desde que ele tinha assumido
o cargo – relutantemente – havia um elemento de dúvida na sua mente que se
resumia em saber se ele poderia igualar as conquistas de Shankly e Paisley.
A League Cup
havia sido uma conquista difícil. Ela foi ganha com garra e coragem mais do que
com classe e habilidade. Até agora ela está situada na sala de troféus de
Anfield e Fagan poderia ter pelos menos uma horaria em seu nome. Aos 62 anos,
ele tinha alcançado a sua primeira façanha.
“Aquilo
realmente diminuiu a pressão sobre ele e você podia perceber claramente a
mudança nele após o título,” disse Grobbelaar. “Foi um imenso peso que lhe fora
tirado das costas. Qualquer homem estaria ansioso em seguir os passos de Bob
Paisley e Joe, embora nunca tenha demonstrado isso, não era diferente. Ganhar a
Milk Cup deu a todos a crença de que ele conseguiria.”
O time
celebrou a vitória a maior parte da noite. “Sem leite para nós”, disse Kennedy.
“Nós deveríamos ser patrocinados por uma cerveja.” Proféticas palavras. *
* I don’t
know what it is, but I love it, Liverpool’s unforgettable 83-84 season - Tony
Evans – p. 150-158."
11. Margaret Thatcher, inimiga pública número um de Liverpool, e o Primeiro Ministo canadense Pierre Trudeau, em foto de 8 de junho de 1984 (Getty Images) |
Tradução:
Sandro Pontes
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