sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Juventus 2 Manchester United 3 – Segundo jogo da semifinal da Champions League 1999


No ano 2000, a extinta revista de futebol inglesa “Total Football” produziu uma matéria muito interessante chamada Noites Gloriosas (Glory Nights), onde ela contava detalhes de importantes times britânicos contra adversários qualificados nos, então, 45 anos de torneios europeus.

Seis partidas mereceram destaque: Celtic versus Leeds United, em 1970; Liverpool versus Saint Ettiene, em 1977; Nottigham Forest versus Colônia, em 1979, Everton versus Bayern Munique, em 1985; Newcastle versus Barcelona, em 1996; e Manchester United versus Juventus, em 1999.

A grande partida que hoje relatamos foi o combate entre a Juventus e o Manchester United, sem dúvidas uma das maiores partidas já registradas na história da Champions League.

Muitos pensam que a final contra o Bayern foi a partida daquela temporada. Não há como se negar, em termos foi, pois era a decisão do título, mas em termos de dificuldades, adrenalina e superação esta segunda partida da semifinal ganha disparado.

Vamos aos motivos:

1. O jogo era fora de casa, no temível alçapão italiano (diferente da final que foi em campo neutro para ambos os times);

2. A Juventus... a Vecchia Signora era um time formidável naqueles fins de anos 90: campeã em 1996 e vice nas duas temporadas seguintes (contra o Borússia Dortmund em 97 e o Real Madrid em 98), enquanto na final ambos os times, Bayern e United, vinham de grandes jejuns na competição continental (United campeão em 1968 e o Bayern em 1976), ou seja, embora tradicionais não eram temidos como o time italiano na época;

3. Todos os fatores acima e mais o fato de, aos dez minutos de jogo, estar perdendo de 2 a 0 (enquanto que no jogo com o Bayern os gols foram no fim da partida, sem chance de reação para o adversário)!

Precisa falar mais sobre o porquê esta vitória ter sido uma das mais épicas da história dos Red Devils?

Boa leitura.

1. Time que iniciou a partida contra a Vecchia Signora no Delle Alpi (Getty Images)

Numa noite chuvosa em Turim, a Classe de 99 do Manchester United deu um enorme passo na direção de ficar emparelhada ombro a ombro com a Classe de 68.

Os Reds haviam chegado à final da Copa Europeia novamente após 31 anos.

O United tinha viajado para a Itália mais com esperança do que expectativa.

A primeira partida da sua semifinal de Champions League terminou empatada em 1 a 1 em Manchester e o nível de sua tarefa nesta noite era comparada a uma escalada nos Pirineus– quantos times viajaram para a casa da poderosa Juventus e saíram vitoriosos?

E como se o trabalho já não fosse difícil o suficiente, Filippo Inzaghi marcou nos 10 minutos iniciais para transformar o placar agregado em 3 a 1 para os italianos.

2. Roy Keane tomando o cartão amarelo pela falta feita em Zidane (Getty Images)

Fim de jogo, é claro. Mas não era. Não pela primeira vez na temporada do Treble do United – ou a última – o time de Alex Ferguson foi fundo para conseguir um dos resultados mais extraordinários na história do futebol europeu e reservou a data do seu encontro com o Bayern em Barcelona.

A noite começou desconfortável para o contingente de torcedores viajantes do United. A chuva torrencial que lavou o norte da Itália os encharcou antes do apito inicial, depois eles ficaram sob ataque de uma salva de sinalizadores flamejantes, cortesia dos Ultras da Juve.

O pior estaria porvir após o início da partida. O meio de campo central da Juventus, composto por Edgar Davids e Zinedine Zidane, estava certamente entre os melhores do mundo.

Eles assumiram o controle no início da partida e, com cinco minutos, a Juventus já estava à frente no placar.

Zidane cobrou um escanteio curto para Angelo di Livio e recebeu de volta para cruzar a bola alta que acabou encontrando o pé de Inzaghi a empurrá-la para o fundo das redes.

 
3. Gol de Keane (Allsport)

O segundo gol foi mais fortuito. Inzaghi invadiu a área e tentou cruzar a bola rasteira, mas por infelicidade bateu no pé de Staam, pegou efeito, e encobriu Peter Schmeichel.

Mais uma vez foram estourados fogos nas arquibancadas e nos arredores do Stadio delle Alpi.

Os torcedores do United, amontoados em um canto e molhados já esperavam pelo pior.

Inconscientemente, os jogadores da Juve devem ter sentido que eles já haviam ganho o jogo.

A urgência do seu jogo desapareceu poucos minutos depois do seu segundo gol e o United, especialmente Roy Keane, elevou o seu nível de atuação na partida.

Agora os Red Devils começaram a ver alguma coisa de bola, Dwight Yorke e Andy Cole começaram a se infiltrar ao redor dos quatro zagueiros da Juve nas proximidades da área, causando problemas onde não havia nada antes.

4. David Beckham Andy Cole Paul Scholes e Dwight Yorke celebrando o gol de Cole que empatou a difícil partida em Turim (Getty Images)

Keane estava começando a se sobressair no meio de campo e o seu espírito guerreiro o fez ganhar um cartão amarelo por uma falta em Zidane, o cartão que o tiraria da final.

Nicky Butt era apenas um pouquinho menos efetivo e, de repente, Zizou e Davids não pareciam mais ser os meios campistas de nível mundial que aparentavam ser no começo da partida.

O primeiro gol do United aconteceu um pouco depois da metade do primeiro tempo.

David Beckham cobrou um escanteio perfeito na área, bem no lugar onde estava Keane que cabeceou para as redes. Agora o jogou atingiu um nível ainda mais alto de excitação e dramaticidade.

Duas equipes similares onde uma não devia nada à outra em matéria de qualidade, uma maravilhosa exibição de poderio ofensivo.

Outro gol do United colocaria o time inglês na dianteira pela regra do gol marcado fora de casa, e ele veio pouco depois da meia hora de jogo. E foi criado por Cole, que cruzou uma bola da diagonal para Yorke finalizar com perfeição de cabeça.

5. Dwight Yorke correndo na comemoração do terceiro gol, que selou o destino da partida (Getty Images)

A partida ficou no fio da navalha na segunda etapa. Inzaghi foi um perigo constante e bateu Schmeichel uma vez, mas o gol não foi validado pois o atacante estava impedido.

Então, faltando cinco minutos para o fim de jogo, Cole pegou uma sobra de bola de Yorke, que passou por dois zagueiros e foi derrubado pelo goleiro na sequência, e tocou pro fundo das redes e, dessa maneira, o United carimbou o seu passaporte para a decisão em Barcelona.

Ferguson não conseguia disfarçar a sua alegria. Na conferência de imprensa pós-partida ele exultou: “Nós merecemos estar lá. Este é o nível de jogo que nós sempre almejamos jogar”.

A homenagem veio do meio campista da Juventus, Didier Deschamps: “O United jogou maravilhosamente”, ele disse. “Nós fomos muito bem nos primeiros 20 minutos de jogo, mas depois disso eles mereceram vencer. Nós poderíamos ter vencido a partida de ida por 2 a 0; mas hoje com 2 a 0 a favor, nós fizemos a parte mais difícil e realmente não merecemos passar à final".

O sorriso mais espontâneo da noite estava no rosto de Yorke: “Foi uma noite brilhante. Os rapazes estão todos encantados, pois nós vamos à Barcelona”, ele gargalhou.

6. Fergie cumprimentando Marcello Lipi (Paul Lewis / Getty Images)

Ficha técnica:

Juventus 2 (Inzaghi 2) Manchester United 3 (Keane, Yorke, Cole)

Local: Stadio Delle Alpi

Data: 21 de abril de 1999

Semifinal da Champions League, partida de volta

Público: 65.500

Juventus: Peruzzi, Pirindelli (Montero), Iuliano, Ferrara, Pessotto, Conte, Deschamps, Davids, Di Livio (Fonseca), Zidane, Inzaghi.

Manchester United: Scmeichel, Gary Neville, Irwin, Johnsen, Keane, Stam, Beckham, Butt, Cole, Yorke, Blomqvist (Scholes).

Homem da partida: Roy Keane

Impressões:

“É uma noite de orgulho para mim. Os primeiros 45 minutos foram os melhores do meu tempo como treinador.” Sir Alex Ferguson

“Eu não ligo para o cartão amarelo porque o clube está na final.” Roy Keane *

* Alex Murphy ©, Revista Total Football © (2000).

7. Capa do Mirror Sport retratando a épica vitória (Twbit Blog/Pinterest)

Tradução: Sandro Pontes

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