No ano 2000, a extinta revista de futebol inglesa
“Total Football” produziu uma matéria muito interessante chamada Noites
Gloriosas (Glory Nights), onde ela contava detalhes de importantes times
britânicos contra adversários qualificados nos, então, 45 anos de torneios
europeus.
Seis partidas mereceram destaque: Celtic versus
Leeds United, em 1970; Liverpool versus Saint Ettiene, em 1977; Nottigham
Forest versus Colônia, em 1979, Everton versus Bayern Munique, em 1985;
Newcastle versus Barcelona, em 1996; e Manchester United versus Juventus, em 1999.
A grande partida que hoje relatamos foi o combate
entre a Juventus e o Manchester United, sem dúvidas uma das maiores partidas já
registradas na história da Champions League.
Muitos pensam que a final contra o Bayern foi a
partida daquela temporada. Não há como se negar, em termos foi, pois era a
decisão do título, mas em termos de dificuldades, adrenalina e superação esta
segunda partida da semifinal ganha disparado.
Vamos aos motivos:
1. O jogo era fora de casa, no temível alçapão
italiano (diferente da final que foi em campo neutro para ambos os times);
2. A Juventus... a Vecchia Signora era um time
formidável naqueles fins de anos 90: campeã em 1996 e vice nas duas temporadas
seguintes (contra o Borússia Dortmund em 97 e o Real Madrid em 98), enquanto na
final ambos os times, Bayern e United, vinham de grandes jejuns na competição
continental (United campeão em 1968 e o Bayern em 1976), ou seja, embora
tradicionais não eram temidos como o time italiano na época;
3. Todos os fatores acima e mais o fato de, aos dez
minutos de jogo, estar perdendo de 2 a 0 (enquanto que no jogo com o Bayern os
gols foram no fim da partida, sem chance de reação para o adversário)!
Precisa falar mais sobre o porquê esta vitória ter
sido uma das mais épicas da história dos Red Devils?
Boa leitura.
1. Time que iniciou a partida contra a Vecchia Signora no Delle Alpi (Getty Images) |
Numa noite chuvosa em Turim, a Classe de 99 do
Manchester United deu um enorme passo na direção de ficar emparelhada ombro a
ombro com a Classe de 68.
Os Reds haviam chegado à final da Copa Europeia
novamente após 31 anos.
O United tinha viajado para a Itália mais com
esperança do que expectativa.
A primeira partida da sua semifinal de Champions
League terminou empatada em 1 a 1 em Manchester e o nível de sua tarefa nesta
noite era comparada a uma escalada nos Pirineus– quantos times viajaram para a
casa da poderosa Juventus e saíram vitoriosos?
E como se o trabalho já não fosse difícil o
suficiente, Filippo Inzaghi marcou nos 10 minutos iniciais para transformar o
placar agregado em 3 a 1 para os italianos.
2. Roy Keane tomando o cartão amarelo pela falta feita em Zidane (Getty Images) |
Fim de jogo, é claro. Mas não era. Não pela
primeira vez na temporada do Treble do United – ou a última – o time de Alex
Ferguson foi fundo para conseguir um dos resultados mais extraordinários na
história do futebol europeu e reservou a data do seu encontro com o Bayern em
Barcelona.
A noite começou desconfortável para o contingente
de torcedores viajantes do United. A chuva torrencial que lavou o norte da
Itália os encharcou antes do apito inicial, depois eles ficaram sob ataque de
uma salva de sinalizadores flamejantes, cortesia dos Ultras da Juve.
O pior estaria porvir após o início da partida. O
meio de campo central da Juventus, composto por Edgar Davids e Zinedine Zidane,
estava certamente entre os melhores do mundo.
Eles assumiram o controle no início da partida e,
com cinco minutos, a Juventus já estava à frente no placar.
Zidane cobrou um escanteio curto para Angelo di
Livio e recebeu de volta para cruzar a bola alta que acabou encontrando o pé de
Inzaghi a empurrá-la para o fundo das redes.
O segundo gol foi mais fortuito. Inzaghi invadiu a
área e tentou cruzar a bola rasteira, mas por infelicidade bateu no pé de
Staam, pegou efeito, e encobriu Peter Schmeichel.
Mais uma vez foram estourados fogos nas
arquibancadas e nos arredores do Stadio delle Alpi.
Os torcedores do United, amontoados em um canto e
molhados já esperavam pelo pior.
Inconscientemente, os jogadores da Juve devem ter
sentido que eles já haviam ganho o jogo.
A urgência do seu jogo desapareceu poucos minutos
depois do seu segundo gol e o United, especialmente Roy Keane, elevou o seu
nível de atuação na partida.
Agora os Red Devils começaram a ver alguma coisa de
bola, Dwight Yorke e Andy Cole começaram a se infiltrar ao redor dos quatro
zagueiros da Juve nas proximidades da área, causando problemas onde não havia
nada antes.
4. David Beckham Andy Cole Paul Scholes e Dwight Yorke celebrando o gol de Cole que empatou a difícil partida em Turim (Getty Images) |
Keane estava começando a se sobressair no meio de
campo e o seu espírito guerreiro o fez ganhar um cartão amarelo por uma falta
em Zidane, o cartão que o tiraria da final.
Nicky Butt era apenas um pouquinho menos efetivo e,
de repente, Zizou e Davids não pareciam mais ser os meios campistas de nível
mundial que aparentavam ser no começo da partida.
O primeiro gol do United aconteceu um pouco depois
da metade do primeiro tempo.
David Beckham cobrou um escanteio perfeito na área,
bem no lugar onde estava Keane que cabeceou para as redes. Agora o jogou
atingiu um nível ainda mais alto de excitação e dramaticidade.
Duas equipes similares onde uma não devia nada à
outra em matéria de qualidade, uma maravilhosa exibição de poderio ofensivo.
Outro gol do United colocaria o time inglês na
dianteira pela regra do gol marcado fora de casa, e ele veio pouco depois da
meia hora de jogo. E foi criado por Cole, que cruzou uma bola da diagonal para
Yorke finalizar com perfeição de cabeça.
5. Dwight Yorke correndo na comemoração do terceiro gol, que selou o destino da partida (Getty Images) |
A partida ficou no fio da navalha na segunda etapa.
Inzaghi foi um perigo constante e bateu Schmeichel uma vez, mas o gol não foi
validado pois o atacante estava impedido.
Então, faltando cinco minutos para o fim de jogo,
Cole pegou uma sobra de bola de Yorke, que passou por dois zagueiros e foi
derrubado pelo goleiro na sequência, e tocou pro fundo das redes e, dessa
maneira, o United carimbou o seu passaporte para a decisão em Barcelona.
Ferguson não conseguia disfarçar a sua alegria. Na
conferência de imprensa pós-partida ele exultou: “Nós merecemos estar lá. Este
é o nível de jogo que nós sempre almejamos jogar”.
A homenagem veio do meio campista da Juventus, Didier
Deschamps: “O United jogou maravilhosamente”, ele disse. “Nós fomos muito bem
nos primeiros 20 minutos de jogo, mas depois disso eles mereceram vencer. Nós
poderíamos ter vencido a partida de ida por 2 a 0; mas hoje com 2 a 0 a favor,
nós fizemos a parte mais difícil e realmente não merecemos passar à final".
O sorriso mais espontâneo da noite estava no rosto
de Yorke: “Foi uma noite brilhante. Os rapazes estão todos encantados, pois nós
vamos à Barcelona”, ele gargalhou.
6. Fergie cumprimentando Marcello Lipi (Paul Lewis / Getty Images) |
Ficha
técnica:
Juventus
2 (Inzaghi 2) Manchester United 3 (Keane, Yorke, Cole)
Local:
Stadio Delle Alpi
Data:
21 de abril de 1999
Semifinal
da Champions League, partida de volta
Público:
65.500
Juventus:
Peruzzi, Pirindelli (Montero), Iuliano, Ferrara, Pessotto, Conte, Deschamps,
Davids, Di Livio (Fonseca), Zidane, Inzaghi.
Manchester
United: Scmeichel, Gary Neville, Irwin, Johnsen, Keane, Stam, Beckham, Butt,
Cole, Yorke, Blomqvist (Scholes).
Homem
da partida: Roy Keane
Impressões:
“É uma noite de orgulho para mim. Os primeiros 45
minutos foram os melhores do meu tempo como treinador.” Sir Alex Ferguson
“Eu
não ligo para o cartão amarelo porque o clube está na final.” Roy Keane *
*
Alex Murphy ©, Revista Total Football © (2000).
7. Capa do Mirror Sport retratando a épica vitória (Twbit Blog/Pinterest) |
Tradução:
Sandro Pontes
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