terça-feira, 19 de novembro de 2019

Aston Villa - Quando o Villa desafiou o nazismo

Nos anos em que o nazismo se consolidou e o mundo já caminhava a passos largos para o que seria a Segunda Guerra Mundial, este poderio germânico inclusive alcançou as fronteiras desportivas, onde times que excursionavam pelo território alemão, usualmente eram intimados a fazer a saudação nazista para a torcida presente no estádio.

Em 1938, portanto, aproximadamente um ano antes de estourar a guerra, o Aston Villa excursionou pela Alemanha e fez o impensável: se recusou a prestar a saudação nazista! Em vez disso fizeram outra espécie de saudação!

Antes de passar ao texto necessariamente dito há que se fazer um esclarecimento sobre o gesto de foda-se: geralmente estamos acostumados com o dedo do meio em riste e o restante fechado. Porém, na Inglaterra, há uma variação do gesto que é representada com o dedo indicador e o do meio (uma espécie de V da vitória).

Após feito este esclarecimento, segue-se o texto que mostra quando o Villa foi muito ousado ao, simbolicamente, desafiar um sistema opressor.

Boa leitura.

1. Capa do programa oficial da partida em que os jogadores do Villa deixaram de fazer a saudação nazista (Site 10 Footballs)

Quem desafiou os nazistas? Aston Villa foi o time!

Próximo ao verão de 1938, sob o sol forte no gramado do Estádio Olímpico de Berlim, 110.000 espectadores assistiram ao massacre da Inglaterra sobre a sua seleção por 6 a 3 naquele 14 de maio.

Este poderia ter sido um daqueles dias para entrar na história do futebol inglês, não somente pelo placar, mas especialmente em virtude do clima político tenso daquela época.

Mas este jogo é lembrado por algo muito mais desagradável, quando Hapgood – o capitão da Inglaterra – pressionado pela Footaball Association, liderou a entrada do seu time em campo fazendo a saudação nazista diante do público presente.

Esta decisão não caiu bem no time. Houve muita conversa sobre este fato entre os jogadores antes do jogo, e não se chegou a um acordo efetivo sobre a questão.

Não houve uma unanimidade acerca da decisão da comissão responsável pela delegação de que a saudação deveria ser prestada.

Hapgood, o capitão da equipe, pensou em se colocar na posição de sentido, como todos os times britânicos se portavam no Continente naquela época, já seria o suficiente.

2. Time do Villa que se recusou a prestar a continência nazista (7500 to Holte)

Outro membro do time me disse; ‘Eu sei que o meu pai, quando ver uma foto minha prestando a saudação nazista, não ficará contente”.

A Football Association inglesa ficou feliz com o time e o seu “gesto de boa vontade”, mas no dia seguinte a Grande Alemanha jogaria com um dos maiores e mais famosos times no mundo do futebol, e as coisas não sairiam exatamente como planejado.

O Aston Villa chegou sob clima descrito pelo embaixador na capital germânica, Sir Neville Henderson, que havia pontuado que as tensões diplomáticas estavam tão tensas que “era necessário somente uma fagulha para a Europa entrar em convulsão”.

Após um jogo nervoso, onde o Villa encarou um público de mais de 100.000 espectadores contra eles e venceu um Combinando Alemão.

Então, após o apito final, eles se encaminharam lentamente para o meio do campo para fazer a saudação nazista como era praxe. Contudo, eles não a fizeram!

Em vez disso eles caminharam para fora do gramado e voltaram para os vestiários, sendo imensamente vaiados por essa atitude.

O Villa não foi o primeiro time a se recusar a fazer a saudação.

 
3. A versão britânica do foda-se (World Press)

De fato, seis anos antes, o Everton fez o mesmo. O Manchester City e o Derby County também ignoraram ordens previamente combinadas, mas neste clima, um ano antes da Alemanha invadir a Polônia e o Reino Unido declarar Guerra aos germânicos, o Aston Villa permaneceu firme diante de um barril de pólvora internacional.

A rebeldia não foi o último ato, o Villa ainda daria um passo adiante. No seu próximo jogo, em Stuttgart, a pressão para obedecer as exigências nazistas foi muito além do que qualquer coisa percebida anteriormente.

A nossa própria Football Association, se curvando à vontade de Hitler, advertiu o Villa para fazer exatamente o que havia sido combinado.

Os jogadores, relutantemente, entraram em campo ergueram os seus braços, mas no ultimo minuto eles mudaram de ideia e abriram apenas dois dedos – anelar e central - e começaram a mostrar para o público (a versão britânica do foda-se).

Os alemães não tinham ideia do que aquele gesto significava e aplaudiram efusivamente.

Eric Houghton, atacante do Villa naquela época, recorda a situação: "Nós fomos para o centro do gramado e demos a eles a saudação dos dois dedos em vez da saudação nazista".

Eles aplaudiram como loucos. Eles achavam tudo aquilo muito legal. Eles não sabiam o que aquele gesto realmente significava”.

4. Capa do programa oficial do confronto entre alemães e ingleses, do jogo da saudação nazista (Site 10 Footballs)

Nós vencemos a partida por 1 a 0. Uma vitória de estranhos em terra estranha, que não abriram mão de suas crenças e valores perante um regime opressor”.

A Segunda Guerra Mundial ceifaria incontáveis vidas e mudaria a feição da Europa continental (e do mundo todo a reboque), mas se houve um mínimo gesto de consolação para tantas perdas, é que o time do Aston Villa de 1938 entrou num patamar lendário.

Quando muitas pessoas foram obrigadas a obedecer leis baseadas no ódio, inveja e violência ainda havia aqueles que se mantiveram firmes e disseram “não” a tudo isso.

Um grupo de pessoas que mostrou toda sua repugnância e rebeldia em campo. Um grupo de pessoas que lutaria e, eventualmente muitos, perderia sua vida.

Sem pessoas como elas, nós estaríamos vivendo num mundo mais escuro e cruel hoje em dia.

A história acima foi originalmente postada no Aston Villa Subreddit. Algumas vezes você vê uma história que precisa ser compartilhada – neste caso apesar de algumas retificações aqui e ali, o trabalho acima procurou preservar o máximo possível do trabalho do autor original que gentilmente concordou em compartilhar a história, ainda que sem crédito. Muito obrigado!

Texto original publicado por Por James Rushton © (@Jamorushton), 19 de julho de 2015 às 19:00.

5. Time da Inglaterra, de branco, presta a saudação nazista, num dos momentos mais controversos da sua história (Site Vice)

Tradução: Sandro Pontes

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