Nos
anos em que o nazismo se consolidou e o mundo já caminhava a passos largos para
o que seria a Segunda Guerra Mundial, este poderio germânico inclusive alcançou
as fronteiras desportivas, onde times que excursionavam pelo território alemão,
usualmente eram intimados a fazer a saudação nazista para a torcida presente no
estádio.
Em
1938, portanto, aproximadamente um ano antes de estourar a guerra, o Aston
Villa excursionou pela Alemanha e fez o impensável: se recusou a prestar a
saudação nazista! Em vez disso fizeram outra espécie de saudação!
Antes
de passar ao texto necessariamente dito há que se fazer um esclarecimento sobre
o gesto de foda-se: geralmente estamos acostumados com o dedo do meio em riste
e o restante fechado. Porém, na Inglaterra, há uma variação do gesto que é
representada com o dedo indicador e o do meio (uma espécie de V da vitória).
Após
feito este esclarecimento, segue-se o texto que mostra quando o Villa foi muito
ousado ao, simbolicamente, desafiar um sistema opressor.
Boa
leitura.
1. Capa do programa oficial da partida em que os jogadores do Villa deixaram de fazer a saudação nazista (Site 10 Footballs) |
Quem
desafiou os nazistas? Aston Villa foi o time!
Próximo ao verão de 1938, sob o sol
forte no gramado do Estádio Olímpico de Berlim, 110.000 espectadores assistiram
ao massacre da Inglaterra sobre a sua seleção por 6 a 3 naquele 14 de maio.
Este poderia ter sido um daqueles
dias para entrar na história do futebol inglês, não somente pelo placar, mas
especialmente em virtude do clima político tenso daquela época.
Mas este jogo é lembrado por algo
muito mais desagradável, quando Hapgood – o capitão da Inglaterra – pressionado
pela Footaball Association, liderou a entrada do seu time em campo fazendo a saudação
nazista diante do público presente.
Esta decisão não caiu bem no time. Houve
muita conversa sobre este fato entre os jogadores antes do jogo, e não se
chegou a um acordo efetivo sobre a questão.
Não houve uma unanimidade acerca da
decisão da comissão responsável pela delegação de que a saudação deveria ser
prestada.
Hapgood, o capitão da equipe, pensou
em se colocar na posição de sentido, como todos os times britânicos se portavam
no Continente naquela época, já seria o suficiente.
2. Time do Villa que se recusou a prestar a continência nazista (7500 to Holte) |
“Outro membro do time me disse; ‘Eu
sei que o meu pai, quando ver uma foto minha prestando a saudação nazista, não
ficará contente”.
A Football Association inglesa ficou
feliz com o time e o seu “gesto de boa vontade”, mas no dia seguinte a Grande
Alemanha jogaria com um dos maiores e mais famosos times no mundo do futebol, e
as coisas não sairiam exatamente como planejado.
O Aston Villa chegou sob clima
descrito pelo embaixador na capital germânica, Sir Neville Henderson, que havia
pontuado que as tensões diplomáticas estavam tão tensas que “era necessário
somente uma fagulha para a Europa entrar em convulsão”.
Após um jogo nervoso, onde o Villa
encarou um público de mais de 100.000 espectadores contra eles e venceu um
Combinando Alemão.
Então, após o apito final, eles se
encaminharam lentamente para o meio do campo para fazer a saudação nazista como
era praxe. Contudo, eles não a fizeram!
Em vez disso eles caminharam para
fora do gramado e voltaram para os vestiários, sendo imensamente vaiados por
essa atitude.
O Villa não foi o primeiro time a se
recusar a fazer a saudação.
De fato, seis anos antes, o Everton
fez o mesmo. O Manchester City e o Derby County também ignoraram ordens
previamente combinadas, mas neste clima, um ano antes da Alemanha invadir a
Polônia e o Reino Unido declarar Guerra aos germânicos, o Aston Villa
permaneceu firme diante de um barril de pólvora internacional.
A rebeldia não foi o último ato, o
Villa ainda daria um passo adiante. No seu próximo jogo, em Stuttgart, a
pressão para obedecer as exigências nazistas foi muito além do que qualquer
coisa percebida anteriormente.
A nossa própria Football Association,
se curvando à vontade de Hitler, advertiu o Villa para fazer exatamente o que
havia sido combinado.
Os jogadores, relutantemente,
entraram em campo ergueram os seus braços, mas no ultimo minuto eles mudaram de
ideia e abriram apenas dois dedos – anelar e central - e começaram a mostrar para
o público (a versão britânica do foda-se).
Os alemães não tinham ideia do que
aquele gesto significava e aplaudiram efusivamente.
Eric Houghton, atacante do Villa
naquela época, recorda a situação: "Nós fomos para o centro do gramado e demos
a eles a saudação dos dois dedos em vez da saudação nazista".
“Eles aplaudiram como loucos. Eles
achavam tudo aquilo muito legal. Eles não sabiam o que aquele gesto realmente
significava”.
4. Capa do programa oficial do confronto entre alemães e ingleses, do jogo da saudação nazista (Site 10 Footballs) |
“Nós vencemos a partida por 1 a 0.
Uma vitória de estranhos em terra estranha, que não abriram mão de suas crenças
e valores perante um regime opressor”.
A Segunda Guerra Mundial ceifaria
incontáveis vidas e mudaria a feição da Europa continental (e do mundo todo a
reboque), mas se houve um mínimo gesto de consolação para tantas perdas, é que o
time do Aston Villa de 1938 entrou num patamar lendário.
Quando muitas pessoas foram
obrigadas a obedecer leis baseadas no ódio, inveja e violência ainda havia
aqueles que se mantiveram firmes e disseram “não” a tudo isso.
Um grupo de pessoas que mostrou toda
sua repugnância e rebeldia em campo. Um grupo de pessoas que lutaria e,
eventualmente muitos, perderia sua vida.
Sem pessoas como elas, nós
estaríamos vivendo num mundo mais escuro e cruel hoje em dia.
A história acima foi originalmente
postada no Aston Villa Subreddit. Algumas vezes você vê uma história que
precisa ser compartilhada – neste caso apesar de algumas retificações aqui e
ali, o trabalho acima procurou preservar o máximo possível do trabalho do autor
original que gentilmente concordou em compartilhar a história, ainda que sem crédito.
Muito obrigado!
Texto original publicado por Por
James Rushton © (@Jamorushton), 19 de julho de 2015
às 19:00.
5. Time da Inglaterra, de branco, presta a saudação nazista, num dos momentos mais controversos da sua história (Site Vice) |
Tradução: Sandro Pontes
Nenhum comentário:
Postar um comentário