terça-feira, 19 de novembro de 2019

Arsenal – Gunners quase invencíveis

Os duelos entre o Arsenal e o Chelsea sempre foram aguerridos, mas um deles foi muito especial, pois representou a única derrota pela Liga na temporada de 1990-91 dos Gunners.

Os Gunners muito se orgulham da sua campanha que culminou com a conquista do campeonato da temporada 2003-04, de maneira invicta. E este é um título comentado em prosa e verso.

Não iremos nos aprofundar nisso, pois muitas e muitas linhas, vídeos e podcasts já foram gastos para falar da incrível façanha dos Gunners, campeões invictos na temporada 2003-04 e, toda esta dedicação é válida, afinal de contas foi o segundo time a alcançar tal feito, pois o Preston North End havia sido campeão invicto na temporada de 1888-89, por isso quem tiver interesse basta pesquisar que irá se deparar com muita coisa boa que já foi feita sobre o assunto.

Mas muitos poucos se dão conta de que o Arsenal já poderia ter alcançado esta marca 13 anos antes, na temporada de 1990-91, mas uma única derrota em toda temporada, para o Chelsea em Stamford Bridge, frustou os planos dos Gunners.

Este foi o assunto abordado há mais de três anos no site da Four Four Two foi narrado com detalhes como o Arsenal de George Graham teve o seu lugar na história negado pelos Blues em Stamford Bridge.

O texto ainda passa pela derrocada do escocês e o reconhecimento em parte negado ao artífice dos alicerces que serviram de mola propulsora para Arsène Wenger reinar nas próximas décadas à frente dos Gunners, ou seja, mostra que a História não é feita de momentos estáticos, mas uma eterna continuação que colabora para o engrandecimento de todo grande clube de futebol.

E é justamente esta bela matéria que trazemos para seu deleite!

Boa leitura.

1. George Graham com o troféu da First Division de 1990-91 (Bob Thomas/Getty Images)

O quase invencível Arsenal: quando o Chelsea negou a história aos Gunners em 1991

O time invicto de Arsène Wenger da temporada 2003-04 será sempre lembrado como, provavelmente, o melhor time já visto, mas Chas Newkey-Burden relembra outro time dos Gunners que quase alcançou o inimaginável...

Por Chas Newkey-Burden ©, publicado em 22 de janeiro de 2016.

A história do futebol é cheia de advertências de que a margem entre a glória e o desespero pode ser muito tênue.

2. Alan Smith ganhou seis troféus com os Gunners durante o seu período no clube (Getty Images)

Logo também pode ser a linha entre o sucesso e o verdadeiramente sensacional.

Pegue a campanha do Arsenal na temporada de 1990-91.

Os Gunners foram coroados campeões da Liga, seu atacante Alan Smith foi o artilheiro da elite e a sua defesa concedeu meros 18 gols, conseguindo 23 clean sheets. Por que não aproveitar?

No papel isso dificilmente parece o tipo de temporada que um clube olharia para trás e pensaria “Se pelo menos...”  No entanto, há um detalhe embaraçoso: o time só perdeu uma partida, levando-os dolorosamente próximos de uma campanha imbatível na Liga – uma proeza que não acontecia desde que o Preston North End conquistou esta façanha 102 anos antes.

3. Steve Bould em ação contra os Spurs em 1º de janeiro de 1991 em Whiter Hart Lane. A partida terminou empatada em 0 a 0 (Bob Thomas/Getty Images)

DEBAIXO DA PONTE

A única derrota veio em Stamford Bridge em fevereiro de 1991.

A gafe do Chelsea foi então, de certo modo brutal e o seu campo era um lugar inconveniente para visitar, particularmente no fim do inverno.

Embora os Gunners estivessem invictos há 26 partidas da Liga, uma invencibilidade que se esticava desde o fim da temporada anterior, haviam alguns prognósticos duvidosos.

As vitórias com placares dilatados do início da temporada começaram a rarear: seus três últimos resultados foram duas magras vitórias por 1 a 0 e um empate sem gols, e o clube não ganhava em Stamford Bridge desde 1974.

4. David Hillier em ação contra os Spurs na Charity Shield disputada em 10 de agotos de 1991. A partida terminou empatada sem gols e os clubes dividiram a posse do troféu (Paul Popper/Popperfoto/Getty Images)

Se uma invencibilidade está para acabar, é provável que a ocasião em que ela acabe seja num derby.

Esta partida foi baseada no fato que Steve Bould foi forçado a sair por contusão no intervalo do jogo.

Bould era, então, o marechal da defesa do Arsenal, desde que o costumeiro alicerce, Tony Adams, estava ocupado cumprindo uma sentença de quatro meses na prisão por dirigir embriagado.

O banho antecipado de Bould, e o fato de que ele foi substituído pelo jovem e novato meio-campista David Hillier pareceu inverter a maré.

Como o ex-Gunners, Perry Groves, que jogou a partida, diz à Four Two com um sorriso: “Aquele foi o momento – todos nós acusamos Bouldie pelo fato de nós não termos sido invencíveis”.

5. Perry Groves (PA Images)

Quando uma cabeçada terrivelmente equivocada de Nigel Winterburn permitiu a Graham Stuart lançar-se e marcar, foi uma pequena surpresa.

Um pouco depois o Chelsea duplicou a sua vantagem: a defesa remendada do Arsenal parecia desnorteada, uma presa exausta que foi a primeira a cair em desgraça.

Winterburn, entretanto, tentando se redimir do seu erro anterior, ficou absurdamente fora de posição, permitindo uma brecha à Kerry Dixon para marcar para o time da casa com extrema facilidade.

Dois minutos já nos acréscimos, Smith marcou um gol de consolo para os visitantes, mas a sequência imbatível estava acabada.

6. Kerry Dixon, cujo gol se mostrou decisivo para quebrar a invencibilidade do Chelsea (PA Images)

O LEGADO DE GEORGE

Enquanto o Chelsea ganhou a batalha do dia, foi o Arsenal quem ganhou a guerra que seria encerrada em maio, ao ser coroado como campeão pela segunda vez em três anos.

Nessa fase, diz Groves, o fato de eles perderem por pouco uma sequência imbatível na Liga ainda causa ressentimento.

“Nós nunca pensamos, em nenhum momento, que poderíamos passar a temporada inteira sem perder – nós pensávamos que ninguém seria capaz de fazer isso”, ele diz.

“Mas então o Arsenal foi e fez aquilo na temporada 2003-04. Quando eu assisti àquela façanha, eu pensei: “Nós estivemos muitos próximos de fazer isso!”

De fato, muito próximo – o reino de Graham foi um tempo de glória para o Arsenal, glória que foi, talvez, injustamente maculada e quase esquecida por alguns.

Em seus nove anos no comando do clube, o escocês guiou os Gunners para seis grandes troféus incluindo dois títulos de Liga, a Copa dos Vencedores de Copas Europias, e um double de copas domésticas até então sem precedentes.

Usualmente isto seria o suficiente para alçá-lo à condição um ícone, mas muito do que aconteceu desde aquelas memoráveis campanhas ofuscaram a sua imagem.

7. Apresentação de George Graham em White Hart Lane em 1 de outubro de 1998 (Getty Images)

O escocês perdeu o seu emprego em 1995 após um inquérito, dirigido pela Premier League, comprovar que ele havia recebido mais de £400.000 em pagamentos ilegais das aquisições de John Jensen e Pal Lydersen.

Naquele estágio ele tinha transformado o time numa equipe previsível, uma equipe sem graça em que alguns Gooners perderam a fé nele independentemente de qualquer malversação de dinheiro.

Suas subsequentes declarações amargas e a eventual contratação como treinador do odiado rival Tottenham aprofundou ainda mais a animosidade.

Tudo serviu para enlamear a forma como Graham foi reconhecido, mas o que realmente acelerou a amnésia sobre suas conquistas foi a chegada de Arsène Wenger.

O francês não somente ganhou troféus em grande número, ele rasgou o livro de regras defensivas de Graham e priorizou um futebol artístico e fluente.

Rapidamente muitos fãs do Arsenal estavam considerando Graham não como uma lenda do clube, mas como um artefato embaraçoso de um passado pouco sofisticado.

Groves afirma que ele merecia destino melhor. “Ele deveria ser mais reverenciado”, diz o seu ex-comandado.

“As conquistas de Wenger pelo clube não podem ser questionadas, mas se George não tivesse lançado as bases, ele não teria sido capaz de conquistar tudo isso.

Quando George chegou, o Arsenal estava no mesmo nível que o Newcastle está agora – um grande clube, mas abaixo do padrão.

Foi George quem reconstruiu o time e trouxe o orgulho e os troféus de volta. Wenger, então, aprimorou os alicerces que ele havia posto em prática”.

8. Martin Keown celebra a perda do pênalti por Ruud van Nistelrooy (Getty Images)

DESPERTAR DE RUUD (o autor faz um trocadilho com “rude awakening”, despertar abrupto)

Em nenhum lugar as conquistas relativas de Graham e Wenger são mais nítidas do que nas temporadas 1990-91 e 2003-04.

Tal como o time de Graham teve um gol de Kerry Dixon em Stamford Bridge que acabou com uma longa caminhada invicta, o time de invencível de Wenger esteve muito perto de perder a sua longa invencibilidade em Old Trafford.

No último minuto daquela partida terrivelmente irritadiça, Ruud van Nistelrooy chutou um controverso pênalti, marcado para o United, contra a trave e a batalha – e, rapaz, esta foi a batalha! – terminou sem gols.

Só esta volta do destino impediu os excêntricos Gunners de serem capazes de dizer: “Os times duplamente vencedores de Wenger são muito bons, mas eles nunca igualarão a glória dos invencíveis de Graham”.

Não é disto do que Groves está reclamando. “Eu ainda sou um grande Gooner então, independentemente de quem tenha feito isso, eu sempre quis que fosse o Arsenal”, ele diz. *

Revista Four Four Two ©, Chas Newkey-Burden ©.

9. Patrick Vieira e Arsène Wenger com o troféu da Premier League de 2004 (Getty Images)

Tradução: Sandro Pontes

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Wolves neste dia